Guarda contigo essas palavras: nunca um sábio age mais do que quando se encontra compenetrado acerca das coisas divinas e humanas.
Muitos passam pelas coisas abertas e buscam aquelas escondidas e obscuras; as coisas seladas estimulam o furto. Se algo se mostra a qualquer um, parece de pouco valor; o arrombador despreza o que está aberto. Esse costume tem o povo e, do mesmo modo, todos os ignorantes: desejam penetrar nas coisas secretas.
Crítica a ti mesmo, pois assim te acostumarás a dizer a verdade e a ouvi-la. Trata com maior rigor aquilo que tu sentes como mais débil no teu caráter.
Como sabes, a vida nem sempre deve ser retida, pois o bom não é viver, mas sim viver bem. Por isso, o sábio viverá o quanto for necessário e não o quanto puder.
Verá aonde deve ir, com quem, de que modo e o que deve fazer. Ele pensa na qualidade da vida e não na sua duração. Se muitas adversidades ocorrem e perturbam a sua serenidade, ele se afasta. E não faz isso em caso de extrema necessidade, mas sim quando começa a duvidar da sorte; ele diligentemente examina se não deve deixar de viver.
Não considero importante se buscar ou aceitar o seu fim, se virá mais cedo ou mais tarde. Não teme uma grande perda; ninguém pode perder grande coisa naquilo que se escorre gota a gota. Morrer mais cedo ou mais tarde não importa, importa é morrer bem ou mal. Morrer bem é fugir do perigo de viver mal.
· Eu esperarei a crueldade da doença ou do homem quando posso sair através das tormentas e despistar as adversidades? Este é único ponto sobre o qual não podemos nos queixar da vida: ela não prende ninguém.
As condições humanas estão assentadas em bases sólidas, pois ninguém é infeliz a não ser por sua culpa. Te agrada? Vive. Não te agrada? És livre para regressar de onde vieste.
· Queres ser livres em relação ao próprio corpo? Habita-o, pois, como se fosses migrante. Propõe-te que, cedo ou tarde, esta companhia virá a faltar: mais forte te sentirás quando tiveres que deixa-lo. Mas de que modo pensarão no seu fim aqueles cujos desejos por todas as coisas não tem fim?
· Deve-se preferir a mais imunda morte à mais limpa servidão.
· Não existem obstáculos para quem deseja deixar a vida. A natureza nos mantém em cárcere aberto. Quando as necessidades permitem, busque-se uma saída fácil; quando se tem em mãos muitas saídas possíveis, deve-se fazer a escolha e considerar o melhor modo de se libertar; quando a ocasião é difícil, deve-se considerar a melhor, a que estiver mais próxima, seja inaudita ou insólita. A quem não falta coragem para a morte não faltará também imaginação.
· Seria uma viagem incompleta se parássemos na metade ou antes do lugar estabelecido? A vida não é incompleta se é honesta. Onde quer que pares, se parares bem, estará completa. Muitas vezes, pois, há que acaba-la por motivos fortes; na verdade, não são mais importantes as causas que nos mantêm vivos.
· Não existe caminho sem fim.
· Tal como uma fábula, assim é a vida: não interessa pelo que dura, mas por quão bem foi vivida. Não importa onde irás parar. Onde quiseres, para; apenas lhe impõe um bom desfecho.
· Devemos evitar apenas escrever e apenas ler, pois se só escrevemos esgotaremos nossas forças (falo do trabalho de escritura), enquanto somente escrever fará com que se diluam. É necessário passar de um exercício para outro com justa medida, a fim de que a escritura organize tudo que foi recolhido na leitura.
· Também devemos imitar as abelhas, e tudo e tudo que acumularmos com nossas diferentes leituras devemos ordenar(melhor se conservam as coisas, se estão em lugares certos) e, após, com todo o nosso esforço e a nossa inteligência, unir em um só saber todos os diversos conhecimentos, de forma a que se consiga perceber a sua origem e possa demonstrar, igualmente, a sua transformação. Podemos percebe que a natureza faz o mesmo com o nosso sem que o percebamos.
· “deixe de lados essas coisas atrás das quais os homens correm. Deixa as riquezas, perigo e fardo para aqueles que as possuem. Renuncia aos prazeres do corpo e da alma; eles amolecem e debilitam. renuncia à ambição, coisa vã e pomposa, que não tem limite e nem freio, procurando sempre ultrapassar os que caminham à frente ou ao lado, atormentada pela dupla inveja. Sabes bem como é ruim invejar e ser invejado.”
· O que é mais correto, pergunto, obedecer à natureza ou ser obedecido por ela? O que importa sair antes ou depois de um lugar de onde deveremos todos sair um dia? O que importa não é viver muito, mas viver com qualidade. Com efeito, viver muito tempo quem decide é o destino. Viver plenamente, o teu espírito. A vida é longa se for vivida com plenitude. Assim, ela está plena quando a alma tomou posse do bem que lhe é próprio e não depende senão de seu poder.
· Queres saber qual é a vida mais longa? Aquela que tem seu fim na sabedoria. Chegar a esse ponto é atingir o fim mais longínquo e também mais elevado. Assim, o homem pode celebrar audaciosamente, prestar homenagem aos deuses e, dentre os deuses, a ele próprio, fazendo com que a natureza agradeça-lhe pelo que é, pois devolver a ela uma vida melhor que a recebida. Estabeleceu o tipo ideal do homem de bem, demonstrou sua qualidade e magnitude. Se algo mais fosse acrescentado a seus dias, apenas conseguiria levar adiante o se passado.
· Tu ficas indignado e te queixas! Não compreendes que todo mal provém não do que te acontece, mas sim de tua indignação e de tuas reclamações? Do meu ponto de vista, não existe miséria para um homem a não ser a de achar que algo que faz parte da natureza das coisas não está correto.
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