[Livro] A Bússola Do Zen (2002)/Mestre Zen Seung Sahn - Parte 2

 






· Assim, se quisermos aprofundar todo o nosso entendimento e ter sabedoria, devemos, em primeiro lugar, retornar a nossa mente para antes do surgimento do pensamento. Nesse ponto não há nome nem forma. Algumas pessoas o chamam de mente, ou natureza, ou substância, ou Deus, ou eu, ou buda, ou alma, ou espírito, ou consciência. Mas, originalmente, tal ponto não tem nome nem forma, pois já é antes do pensamento, por isso, abrir a sua boca e chama-lo de alguma coisa já é um enorme erro.


· O Buda ensinou que a ignorância causa o sofrimento. Mas o que é a ignorância? Ignorância significa não perceber que esse mundo é impermanente. No entanto, se você entender isso apenas conceitualmente, você terá uma visão intelectual, e isso não o ajudará na vida. Se você não tiver logrado o seu verdadeiro eu, não entenderá, verdadeiramente, o que é a vida e a morte. Por isso é tão importante que você remova a ignorância a fim de se iluminar.

· Se você não entender que todas as coisas são impermanentes, você facilmente se apegará as coisas que, fatalmente passarão. Como resultado, você não poderá se livrar do seu sofrimento e continuará apenas criando mais sofrimento para você e para esse mundo inteiro.


· O mais importante é manter a sua direção correta para com todos os seres, a despeito de estar numa situação boa ou má. Não se apegue a uma situação boa; não se apegue a uma situação ruim. Perceba sempre como agir corretamente tanto nas situações boas quanto nas más, de modo que você possa usar qualquer situação em que se encontre apenas para beneficiar outros seres.


· Os preceitos budistas não são feitos para nós, ou para trazer paz a nossa vida. No Mahayana e no Zen, especialmente, os preceitos são usados de modo que possamos beneficiar outros seres.

· Em algumas tradições Hinayana e Tibetanas, os monges praticam meditação em cemitérios com a finalidade de que isso os ajude a ter uma profunda experiência da impermanência do corpo. Assim, eles podem abandonar quaisquer tipos de desejos que surjam a partir desse corpo temporário. Esse é o insight sobre a impermanência.


· Essa é ilusão básica do ser humano: nosso desejo e apego nos fazem desejar e cobiçar coisas que não nos ajudam na vida.



· O pensamento é a verdadeira fonte da impureza. O Buda ensinou que a impureza que conduz ao sofrimento é aquela que criamos em nossas próprias mentes. Se você possui muitos desejos, sua mente se torna suja. Às vezes, ouvimos falar alguém famoso querendo dinheiro, sexo, e poder: quando você vê isso, naturalmente pensa consigo mesmo: “Isso é muito sujo!” Se você tem muitos apegos e paixões, sua natureza original fica encoberta, contaminada com pensamentos que provêm do fato de haver muito desejo. O nome que se dá a isso é impureza, pois, originalmente, a sua verdadeira natureza é perfeitamente pura e límpida. Quando você por demais apegado a alguma coisa, ou quando deseja algo muito intensamente, seu pensamento seu pensamento se torna “sujo”. Contudo, quando pratica meditação, você consegue perceber as coisas que maculam a sua mente, sendo então possível removê-las.



· Um antigo poema Zen chinês diz: “Vir de mãos vazias, ir de mãos vazias – isso é humano.


· A velhice é somente um sinal de que essa coisa que você tanto teme, está começando a acontecer para você também: logo você morrerá, como todo mundo.


· Este corpo é só um carro de aluguel. Algum dia, você terá que devolver seu carro alugado

· O caro de aluguel não é importante. O importante é: Quem é motorista? Você conhece seu motorista, ou a sua natureza original?

· A maior parte das pessoas está apegada só aos seus carros, sem nunca se preocuparem em entender quem é o motorista. Velhice, doença e morte são um grande problema para todas as pessoas, pois ninguém se esforça para conhecer esse motorista. As pessoas só têm medo é de perder os seus carros.


· Se praticamos uma certa ação muitas e muitas vezes, ela se torna um impulso. Um outro nome que damos a isso é carma. É simplesmente a ação espontânea da nossa mente-de-hábito. Quando somos incapazes de controlar esse impulso, às vezes ele fica em desequilíbrio com aquilo que nossa consciência considera como sendo um comportamento correto ou incorreto, causando sofrimento para nós e para os outros.


· Quando você olha bem lá dentro, vê que somos simplesmente um saco de sangue, excrementos e pus.

· “Seu carma faz o seu corpo e o seu corpo faz o seu carma”.

· Quando você morre, os amigos que o amaram tanto em vida, se libraram do seu corpo o mais rápido possível e até mesmo os cães vão querer distância dele, pois o seu cadáver será muito sujo mesmo.


· O dinheiro é importante para vivermos. Não é nem bom, nem mau. Mas, se você se apegar ao dinheiro, sua mente ficará obscurecida por esse desejo. Hoje são muitas as pessoas que desejam tornam-se milionárias. Então, às vezes, agirão de forma a causar sofrimentos a elas próprias e aos outros, somente por causa do dinheiro.

· Na verdade, o verdadeiro prazer do dinheiro reside no fato de saber usá-lo propriamente. Mas, se o perseguimos simplesmente para satisfazer aos nossos desejos fugazes, então, cedo ou tarde, o efeito cármico desse tipo de pensamento acabará por envenenar a nossa mente.

· Tudo que experimentamos nesse universo surgi, permanece por um certo período, declina e desaparece novamente.


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2 comentários:

  1. Scant,

    Um post simples, direto e bem realista - exatamente aquela realidade que queremos evitar na maior parte do tempo possível.

    Achei muito interessante o trecho sobre o carro, pois ilustra bem o quanto o bem material é mais valorizado do que a própria pessoa.

    Abraços,
    Retrospectiva 2021 (Parte 1) - Simplicidade e Harmonia

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