[Poesia] Dois Últimos Sonetos de Bocage



Meu ser evaporei na lida insana

Do tropel de paixões, que me arrastava.

Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava

Em mim quase imortal a essência humana.


De que inúmeros sóis a mente ufana

Existência falaz me não dourava!

Mas eis sucumbe a Natureza escrava

Ao mal, que a vida em sua origem dana.


Prazeres, sócios meus e meus tiranos!

Esta alma, que sedenta em si não coube,

No abismo vos sumiu dos desenganos.


Deos, oh Deos!... Quando a morte a luz me roube,

Ganhe num momento o que perderam anos,

Saiba morrer o que viver não soube.


Meu ser evaporei na lida insana

Do tropel de paixões, que me arrastava.

Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava

Em mim quase imortal a essência humana.


De que inúmeros sóis a mente ufana

Existência falaz me não dourava!

Mas eis sucumbe a Natureza escrava

Ao mal, que a vida em sua origem dana.


Prazeres, sócios meus e meus tiranos!

Esta alma, que sedenta em si não coube,

No abismo vos sumiu dos desenganos.


Deos, oh Deos!... Quando a morte a luz me roube,

Ganhe num momento o que perderam anos,

Saiba morrer o que viver não soube.


Já Bocage não sou!... À cova escura

Meu estro vai parar desfeito em vento...

Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento

Leve me torne sempre a terra dura.


Conheço agora já quão vã figura

Em prosa e verso fez meu louco intento.

Musa! . . . Tivera algum merecimento,

Se um raio de razão seguisse, pura!


Eu me arrependo; a língua quase fria 

Brade em alto pregão à mocidade,

Que atrás do som fantástico corria:


"Outro aretino fui... A santidade

Manchei... Oh!, se me creste, gente ímpia,

Rasga meus versos, crê na Eternidade!"

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  • https://accao-integral.blogspot.com/2016/12/o-ultimo-soneto-de-bocage.html

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Memento mori...carpe diem!