[Livro] Scrum - a arte de fazer o dobro de trabalho na metade do tempo (2014)/ Jeff Sutherland - Parte 1

 

"(...)pessoas em vez de processos; produtos que realmente funcionem em vez de documentação dizendo como o produto deveria funcionar; trabalhar com os clientes em vez de negociar com eles; e responder às mudanças em vez de seguir um plano. Scrum é a estrutura que eu construí para colocar esses valores em prática. Não existe uma metodologia. (Manifesto Ágil)"




Planejar é útil. Seguir cegamente os planos é burrice. 

É simplesmente tentador demais ficar desenhando diagramas sem fim. Todo o trabalho que precisa ser feito em um projeto de grande porte deve ser definido para todos verem — mas, quando os planos detalhados se deparam com a realidade, eles viram ruínas. Inclua no seu método de trabalho a possibilidade de mudança, descoberta e inovação. 

Eisenhower, certa vez, disse que planejar o combate é importante, mas assim que o primeiro tiro fosse disparado, o plano viraria fumaça.

Tradicionalmente, a gerência quer duas coisas em qualquer projeto: controle e previsibilidade. Isso resulta em um vasto número de documentos, gráficos e diagramas (...). Meses de esforço para o planejamento de todos os detalhes, para que não haja nenhum erro, para que o orçamento não estoure, e para que tudo seja entregue no prazo. O problema é que o cenário cor-de-rosa nunca vira realidade. Todo o esforço investido no planejamento, tentando restringir mudanças e adivinhar o imponderável, não serve para absolutamente nada. Todo projeto envolve a descoberta de problemas e surtos de inspiração. Qualquer tentativa de restringir o empreendimento humano de qualquer natureza a diagramas coloridos é bobagem e está fadada ao fracasso.


Inspeção e Adaptação

De tempos em tempos, pare de fazer o que está fazendo, revise o que já fez e verifique se isso ainda é o que você deveria estar fazendo e se existe uma maneira de fazer melhor. 

Em essência, o Scrum tem como base uma ideia simples: ao começar um projeto, por que não fazer paradas regulares para verificar se o que está sendo feito está seguindo na direção certa, e se, na verdade, os resultados são os que as pessoas desejam? E verificar se existem maneiras de aprimorar a forma como se está trabalhando para obter resultados melhores e executados mais rapidamente, e quais seriam os obstáculos que impedem as pessoas de obtê-los. Isso é chamado de ciclo de “Inspeção e Adaptação”. De tempos em tempos, pare de fazer o que está fazendo, revise o que já fez e verifique se ainda deveria estar fazendo aquilo e como você pode fazê-lo melhor. É uma ideia simples, mas executá-la exige reflexão, introspecção, honestidade e disciplina. 

Taiichi Ohno
Sistema Toyota de Produção desenvolvido por Taiichi Ohno. (...) um dos conceitos-chave que Ohno apresentou foi a ideia de “fluxo”. Ou seja, a produção deveria fluir de forma calma e rápida por todo o processo, e ele dizia que uma das principais tarefas da gerência era identificar e remover os obstáculos para tal fluxo. Tudo que fica no caminho constitui um desperdício. Ohno nos dá um conceito de desperdício, assim como um valor de negócios, em seu livro clássico, O sistema Toyota de produção: Não é exagero dizer que, em um período de crescimento lento, tal desperdício seja mais um crime contra a sociedade do que uma perda nos negócios. A eliminação do desperdício deve ser o principal objetivo de uma empresa. 

Mudar ou morrer. 

Ficar preso ao modo antigo de fazer as coisas, de mandar ou controlar e manter uma previsibilidade rígida resultará apenas no fracasso. Nesse meio tempo, a concorrência que estiver disposta a mudar deixará você comendo poeira. 

Fracasse rápido para que possa corrigir o problema o quanto antes. 

A cultura corporativa costuma dar mais valor a formulários, procedimentos e reuniões do que à criação de valor palpável que pode ser verificado a curtos possibilita de tempo pelos usuários. O trabalho que não resulta em valor real é loucura. Trabalhar em um produto em ciclos curtos possibilita um feedback inicial do usuário, permitindo que você possa eliminar imediatamente tudo aquilo que obviamente constitui um desperdício de esforço.

No Scrum chamamos esses ciclos de Sprint [corrida de velocidade de curta distância]. No início de cada ciclo, acontece uma reunião para planejar o Sprint. A equipe decide a quantidade de trabalho que acredita ser capaz de realizar nas duas semanas seguintes. Eles escolhem as tarefas na lista de prioridades, as anotam em post-its e os colam na parede. A equipe decide quantas tarefas será capaz de executar em duas semanas. No final do Sprint, a equipe se reúne e mostra o que conseguiu realizar naquele tempo.

  • Eles analisam quantos dos post-its da parede realmente foram concluídos. Será que tinham escolhido tarefas demais e não conseguiram concluir todas? Ou será que haviam escolhido poucas? O importante era que começassem a estabelecer uma base para sentir o ritmo do trabalho — a velocidade que conseguiam atingir. Depois de mostrarem o que conseguiram fazer — e é aqui que as ideias de Ohno entram —, a equipe discute não o que fizeram, mas como fizeram. Eles perguntam: “Como podemos trabalhar melhor no próximo Sprint? Quais foram os obstáculos que tivemos de remover durante esse período? Quais são os obstáculos que estão diminuindo o nosso ritmo?”.


 Não é o crítico que conta, não o homem que aponta como o homem forte tropeça, ou onde o executor de ações poderia ter feito melhor. O crédito pertence ao homem que está realmente na arena, com o rosto desfigurado pela poeira e suor e sangue; que se esforça corajosamente; que erra, que tenta de novo e de novo, porque não existe esforço sem erros e lacunas; mas quem realmente se esforça para fazer as obras, quem conhece grandes entusiasmos, as grandes devoções; quem consome-se em uma causa digna é quem melhor conhece, no final, o triunfo das grandes realizações, e que, na pior das hipóteses, se falhar, pelo menos não será enquanto não tiver ousado muito, de tal forma que seu lugar nunca será junto às almas frias e tímidas que não conhecem a vitória nem a derrota.(“Cidadania numa República”, que Teddy Roosevelt fez em Sorbonne, em 1910)


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9 comentários:

  1. Como disse Mike Tyson há mais de 20 anos: "Todo mundo tem um plano até levar um soco na boca".
    Trabalhei 3 anos no mundo corporativo e não pretendo voltar jamais. Lembro-me de quanto me incomodava de ficar ocioso, não poder fazer muito além das minhas designações e ter de aguardar a hora de bater o ponto.
    Abraço

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    1. fala-se tanto em eficiência que na prática isso virou um objeto de adoração e não um costume
      ainda falam que o maior ativo é o funcionário

      abs!

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  2. Muito bom o post.

    Infelizmente o contrário do pregado nesse post é a regra dentro das empresas, a quantidade de tempo desperdiçada com futilidades e inutilidades não é pouca coisa, hoje em dia criou-se um conceito de que é preciso centralizar e padronizar tudo dentro das empresas, o resultado é o engessamento das empresas.

    Abraços,
    http://poupadordointerior.blogspot.com/

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    1. Esse engessamento e realização de atos contraproducentes, aliás, é a regra no setor público. Eu mesmo me recuso a ir a alguma reunião há pelo menos 10 anos. Tenho mais o que fazer da vida, inclusive TRABALHAR. Os colegas só sabem que ainda trabalho ali porque estou no grupo de WhatsApp de meu órgão, onde não posto nada.

      Sugiro bastante as tirinhas de Dilbert de Scott Adams, onde toda incompetência é premiada.

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    2. na prática se perde mais tempo falando em como se trabalhar ao invés de se trabalhar e ir corrigindo eventuais falhas
      é a fetichização do trabalho, o que não é impressionante, pois raramente a produtividade é premiada

      abs!

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  3. Excelente livro, comecei ele mas infelizmente não terminei, acabei pegando muito livro pra ler e como a aplicabilidade dele pra mim não era tão direta acabei deixando ele de lado. Vou acompanhar ele aqui =)

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    1. vou soltando os resumos de tempos em tempo para manter alguma variedade nos posts

      abs!

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  4. Fala, Scant.

    Sobre: "Ficar preso ao modo antigo de fazer as coisas"...

    Em meu trabalho, fui o primeiro a utilizar ferramentas como WhatsApp, Messenger e um tal de "e-mail" para a prática de atos de comunicação processual. Há quase seis anos, passei a solicitar que todos os advogados consignassem contatos de ambas as partes nas petições, por meio de comunicados afixados no fórum. Quando isso não vem em petição, telefono e peço. Resultado: hoje, durante a TEMÍVEL pandemia de peste negra, a execução de mandados está a pleno vapor em meu órgão e não há NADA represado. Enquanto isso, a Capital do Estado conta com mais de 1000 expedientes represados com todo mundo embaixo da cama, enriquecendo ilicitamente. Além disso, terão que dar conta de tudo quando a ordem de cima vier neste sentido. Afinal, voltaremos às nossas atividades do mesmo jeito: sem cura, sem vacina, com cloroquina (ou tubaína para quem quiser). E os "respiradores" já foram embolsados pelos Prefeitos e Governadores.

    Há anos realizo avaliações com o uso de google street view e earth. Nunca tive problemas com isso. E tb faço uso do Malote Digital há anos, enquanto amigos ainda vão a cartórios, gastando tempo, gasolina, pneus e paciência.

    Certa vez, um colega me disse que não achava interesse o uso dessas ferramentas eletrônicas na atividade, pois havia a questão do "rito" etc. Sugeri a ele que diligenciasse a cavalo, para manter a tradição.

    Enfim: agora, em tempos de ebola - ops, corona -, estão todos de mãos atadas e começando a perguntar como o carinha das ferramentas digitais trabalha. Me sinto quase um hacker do Anonymous.

    E, claro, nunca pedi licença a ninguém para ir tocando a boiada. Fui fazendo de meu jeito. Otimizando à minha maneira. Se tivesse consultado colegas, estaria até agora amarrado a fórmulas obsoletas.

    Abraços!

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    1. esse engessamento se tornou um dogma a ser seguido: excesso de normas jurídicas inúteis detalhando inúmeras condutas e princípios do que fazer e não fazer para se alcançar a tal "segurança jurídica" que depende mais da habilidade do advogado (e da boa vontade do julgador) que da lei

      fora o medo de tomar um PAD por alguma filigrana e a consciência que a produtividade só aumenta o risco de chamar intenção indesejada tornam o serviço público uma câmara de gás de produtividade

      e a criatividade morreu lá dentro

      abs!

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Memento mori...carpe diem!