[Livro] Nascido para Correr (2009)/ Christopher McDougall



Introdução


Existe algo muito universal nessa sensação, no modo como o ato de correr combina dois de nossos impulsos primais: sentir medo e sentir prazer. Corremos quando estamos assustados, quando estamos em êxtase, quando queremos fugir dos problemas e para curtir momentos de felicidade.

Conselhos úteis

Os tarahumaras

  • ‘Quando alguém corre sobre a terra e com a terra, pode correr para sempre’”.

Quando o assunto são distâncias enormes, ninguém consegue derrotar um corredor tarahumara – nem um guepardo, nem um cavalo de corrida, nem um maratonista olímpico. (...) Os tarahumaras festejam durante toda a noite, depois se animam para, na manhã seguinte, dar início a uma corrida que não percorre três quilômetros nem dura duas horas, e sim dois dias inteiros.



As exceções, no caso, são os seres humanos que correm e não se machucam. Em cada dez corredores, pelo menos oito se ferem todos os anos. Não importa se você é magro ou gordo, veloz ou moderado, campeão de maratona ou corredor de final de semana, você está sujeito aos mesmos riscos de comprometer joelhos, canelas, tendões, quadris ou calcanhares. Na próxima vez em que se inscrever para uma Turkey Trot, tradicional corrida realizada nos eua perto do Dia de Ação de Graças, observe os corredores ao seu lado: pelas estatísticas, apenas um de vocês três irá chegar para a comemoração do final da prova.


 Costumam beber sem medida todas as semanas, consumindo, em um ano, uma quantidade de cerveja de milho a ponto de gastar cada terceiro dia da vida adulta embriagados ou em recuperação. Ao contrário de Lance Armstrong, não recompõem o corpo com bebidas ricas em substâncias revigorantes, nem recorrem a barras energéticas. 

Na verdade, os integrantes da tribo consomem pouca proteína: sua dieta é baseada no milho, cultivado por eles mesmos, acompanhado de um prato bastante apreciado – camundongo assado. Para as corridas, não treinam nem se preparam, não fazem alongamentos nem aquecimentos. Apenas caminham até o ponto de largada, rindo e fazendo brincadeiras... E correm como loucos por 48 horas seguidas.

 Alguns meses depois, vim a saber que o iskiate também é chamado de chia fresca. O preparo consiste em dissolver sementes de chia (Salvia hispanica) em água, com um pouco de açúcar e sumo de lima. No que se refere às propriedades nutricionais, uma colher de sopa de chia pode ser comparada a uma vitamina preparada com salmão, espinafre e hormônios humanos para o crescimento. Apesar de minúsculas, as sementes são ricas em ômega 3, ômega 6, proteínas, cálcio, ferro, zinco, fibras e antioxidantes. Se você tivesse de escolher apenas um alimento para levar a uma ilha deserta, a melhor opção seria a chia – pelo menos se a sua preocupação fosse fortalecer os músculos e reduzir o colesterol e os riscos de problemas cardíacos.

Esse era o verdadeiro segredo dos tarahumaras: eles nunca esqueciam como era gostar de correr. Tinham em mente o fato de que a corrida foi a primeira arte que o ser humano dominou, o nosso ato original de criação inspirada. Ao mesmo tempo que desenhávamos imagens em cavernas e tirávamos sons de troncos ocos, também aperfeiçoávamos a técnica de ajustar a respiração, a mente e os músculos, buscando uma ágil autopropulsão sobre superfícies íngremes. E, quando os nossos ancestrais finalmente fizeram os primeiros registros nas cavernas, o que eles retratavam? Um rápido raio, um ataque vigoroso – veja só, o Homem Corredor.

A corrida à distância tinha valor porque era indispensável. Era o meio de sobreviver e manter a espécie no planeta. Era preciso correr para comer e para não virar comida; para encontrar uma parceira, impressioná-la e, ao lado dela, correr para formar uma nova vida juntos. Era preciso amar a corrida, ou não daria para sobreviver para amar outra coisa. E, como acontece com quase tudo o que amamos (tudo o que chamamos de “paixões” e “desejos”), trata-se de uma necessidade ancestral herdada.

Desenvolvimento Pessoal


  • Talvez todos os nossos problemas – violência, obesidade, doença, depressão e tristeza que não conseguimos superar – tenham começado quando paramos de viver como o povo corredor. Ao negar nossa natureza, ela irrompeu de outra forma, e não tão bonita.

“Existem duas deusas em seus corações. A da sabedoria e a da riqueza. Todo mundo acha que, se conseguir a riqueza, a sabedoria virá depois, e acaba concentrando a atenção na busca de dinheiro. Mas isso tem um custo. Se você dedicar seu coração à deusa da sabedoria e entregar a ela todo o seu amor e a sua atenção, a deusa da riqueza sentirá ciúme e irá persegui-lo”. Não espere nada em troca de sua dedicação à corrida e ganhará mais do que jamais imaginou.

“Pratique a abundância compartilhando o que ganha”, “Invista nos relacionamentos pessoais” ou “Faça da integridade uma marca do seu conjunto de valores”.



Sempre que uma forma de arte perde sua força, quando se enfraquece pela elaboração intelectual e os princípios iniciais caem em tradições rançosas, uma onda radical pode surgir para reacendê-la e fazê-la ressurgir do nada. Os ultracorredores chamados de Young Guns podiam ser comparados aos escritores da geração perdida da década de 1920, aos poetas beats dos anos 1950 e aos criadores do rock da geração de 1960: eram pobres, sem sucesso e livres de qualquer expectativa. Eram artistas do corpo, criando com a paleta da resistência humana.

Eu sabia que exercícios aeróbicos tinham um forte poder antidepressivo, porém não havia percebido como poderiam ajudar a estabilizar o humor e (odeio usar a palavra) propiciar a meditação. Se você não chegar a uma resposta para os seus problemas depois de uma corrida de quatro horas, é porque o seu problema não tem solução.

“Poesia, música, mato, mar, isolamento – isso resultou numa enorme força espiritual. Ficou claro que o preparo espiritual, tanto quanto ou ainda mais que o preparo físico, precisa ser armazenado antes de uma corrida.” Herb Elliott, campeão olímpico e recordista mundial na milha, que treinava descalço, escrevia poesias e se aposentou invicto
Apenas quando uma alma morta consegue apagar todos os vestígios da passagem pela terra, ela está apta a partir para outra vida.

Correndo Melhor


“Não tente brigar com o terreno”, Caballo falou por cima do ombro. “Aceite o que lhe for dado. Se você pode escolher entre dar um passo ou dois entre as rochas, dê três.” De tanto tempo que havia passado em meio àquelas trilhas, Caballo já tinha até dado apelidos para as pedras do caminho: algumas eram as ayudantes, que ajudavam a dar impulso para frente; outras pareciam fazer o mesmo, mas não ofereciam firmeza e podiam se revelar “traidoras”, e outras ainda eram chamadas de chingoncitos, pequenas malditas que estavam ali só para atrapalhar.

“A lição número dois”, avisou Caballo, referindo-se ao modo de correr, “é pensar: fácil, leve, suave e rápido. Você começa com o ‘fácil’, porque só de conseguir isso já é alguma coisa. Depois se concentre na leveza. Faça tudo sem esforço, como se não ligasse para a altura da montanha ou a distância que tem pela frente. Quando souber fazer isso tão bem que nem perceber mais, lembre-se do quanto é suaaaaave. Não se preocupe com o último aspecto porque, quando dominar os três primeiros, você será rápido.”

“Além do cansaço e esgotamento extremos, podemos encontrar reservas de energia e conforto que jamais imaginamos possuir; fontes de força nunca invocadas porque nunca fomos ao limite”.

“Em dia de corrida, você precisa de duzentas calorias por hora. O segredo está em saber como consumir isso aos poucos, e é preciso recorrer a um fluxo constante para não sobrecarregar o estômago. Vai ser um bom treino.”

"na próxima vez em que machucarem os pés, caminhem sobre pedras escorregadias de um riacho frio."

“Ninguém para de correr porque envelheceu”, afirmou Jack Kirk. “Apenas envelhece porque parou de correr.”

O modo de ativar o mecanismo de queima de gordura é mantendo o corpo abaixo de seu limite aeróbico (momento em que se torna difícil respirar) durante as corridas de resistência.

Eric me mandava correr por duas horas seguidas, com a única recomendação de me concentrar na forma, e manter o ritmo suave o bastante para respirar com a boca fechada. (Cinquenta anos antes, Arthur Lydiard também deu sua dica para controlar o ritmo cardíaco e de corrida: “Apenas corra na velocidade em que consegue conversar”.)

“Quanto mais rápido você correr com conforto, menos energia irá demandar. A velocidade significa menos tempo sobre os pés”.


Tênis de Corrida (!?)


O tênis bloqueia a dor, e não o impacto! A dor nos ensina a correr do jeito certo! A partir do momento em que você começar a correr descalço, irá mudar a sua forma de correr.

  • Diversos machucados nos joelhos e nos pés que nos castigam são resultado do hábito de correr com calçados que enfraquecem os pés, exigem uma pronação excessiva e forçam os joelhos. Até 1972, quando a Nike inventou os tênis esportivos modernos, as pessoas corriam com calçados de solado fino, tinham pés fortes e apresentavam um índice bem menor de ferimentos nos joelhos.( Daniel Lieberman, professor de antropologia biológica de Harvard,)


Verdade dolorosa número 1: Os melhores calçados são os piores. (...) o relatório de 1991 na Medicine & Science in Sports & Exercise, que revelou que “quem usa tênis caros, anunciados por suas características adicionais capazes de proteger (por exemplo, maior amortecimento, ‘correção da pronação’), se fere com bem mais frequência do que os corredores que usam tênis baratos (que custam menos de quarenta dólares)”. Até parece piada: o dobro do preço, o dobro de problemas.

Não há provas de que os tênis de corrida de fato contribuam para evitar machucados. Em uma pesquisa realizada em 2008 para o British Journal of Sports Medicine, o doutor Craig Richards, pesquisador da Universidade de Newcastle, na Austrália, revelou que não existem estudos conclusivos (nem um sequer) que demonstre que os tênis de corrida reduzem as chances de ferimentos.

Verdade dolorosa número 2: Tênis velhos são melhores do que tênis novos. (...) Mas como o controle dos pés e o uso de uma sola desgastada podem evitar problemas nas pernas? Por causa de um ingrediente mágico: o medo. (...) conforme os tênis de corrida se desgastavam e o sistema de amortecimento reduzia, os pés dos corredores se estabilizavam e ganhavam mais segurança.



 É lógico que isso deveria ser óbvio: o impacto sobre as pernas decorrente da corrida pode corresponder a doze vezes o peso do corpo, por isso não faz sentido achar que alguns centímetros de borracha possam fazer algo contra, no meu caso, cerca de 1.200 quilos de carne, ossos e músculos. Você pode encapar um ovo com uma luva de borracha antes de dar uma martelada nele, porém ele jamais sairá ileso do golpe.

Verdade dolorosa final: “os seres humanos foram criados para correr descalços”.

Para sustentar o arco do pé, existe uma rede muito bem afinada de 26 ossos, 33 articulações, doze tendões flexíveis e dezoito músculos, todos capazes de alongar e se adaptar como uma ponte suspensa projetada para resistir a um terremoto. “Colocar os pés dentro de sapatos é o mesmo que engessá-los”.


Conclusão 

Leitura essencial.
Recomendo.

Grande abraço! 
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8 comentários:

  1. Ótima dica Scant!
    Já coloquei na minha lista de leituras,

    Abraços

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  2. Que dica hein, Scant! Valeu demais! E ao final percebe-se como o corpo humano é incrível não é, trabalha e adapta da melhor forma possível, só cabe a nós cuidar e cuidar! Abraços

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    1. cada dia é uma oportunidade de perceber como nosso corpo reage

      abs!

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  3. Todo um manual para... correr. rs

    Mas um ótimo texto, especialmente quanto aos reflexos "existenciais" da corrida.

    Abraços!

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    1. tem manuais que valem a pena. esse é um deles

      abs!

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  4. Muito bom o texto, a parte da respiração foi um divisor de águas na minha vida.

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  5. Like a Machine - respiracao ajuda demais mesmo nos esportes e na vida

    abs!

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