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07 abril, 2021

[Livro] Acredite, estou mentindo (2012)

 


 BLOGS FAZEM AS NOTÍCIAS Jogamos pelas regras deles por tempo o bastante e o jogo se torna nosso. —ORSON SCOTT CARD, O JOGO DO EXTERMINADOR

 

BLOGS SÃO IMPORTANTES 

Por “blog” eu me refiro coletivamente a todas as formas de publicação online. Isso abrange tudo, de contas no Twitter aos sites dos grandes jornais, aos serviços de vídeo e aos sites com centenas de redatores. Não me importa se os donos se consideram blogueiros ou não. A realidade é que todos estão sujeitos aos mesmos incentivos, e eles lutam por atenção com táticas semelhantes.

 

Embora existam milhões de blogs na internet, você perceberá que alguns serão mencionados com frequência neste livro: Gawker, Business Insider, Politico, BuzzFeed, Huffington Post, Drudge Report e outros semelhantes. Isso não é porque eles sejam os mais lidos pelo público, mas porque são os mais lidos pela elite da mídia, e seus donos-apóstolos, Nick Denton, Henry Blodget, Jonah Peretti e Arianna Huffington têm imensa influência. Um blog não é pequeno se o seu punhado de leitores é constituído de produtores de TV e redatores de jornais de abrangência nacional.


Resumindo, os blogs são veículos nos quais os jornalistas dos meios de comunicação de massa – e seus amigos mais tagarelas e “informados” – descobrem e pegam notícias. Esse ciclo oculto está na origem dos memes que se tornam nossas referências culturais, das estrelas em ascensão que se tornam nossas celebridades, dos pensadores que se tornam nossos gurus e das notícias que se tornam nossas notícias.


(...) somos um país governado pela opinião pública, e a opinião pública é amplamente governada pela imprensa, então não é essencial compreendermos o que governa a imprensa? O que controla a imprensa, concluiu ele, controla o país.


(...) aqui está o ciclo novamente: 

Blogs políticos precisam de coisas para cobrir; o tráfego aumenta durante as eleições 

A realidade (eleição muito distante) não combina com isso Blogs políticos criam candidatos mais cedo; antecipam o início do período eleitoral 

A pessoa que eles cobrem, por ter a cobertura, torna-se um candidato real (ou até presidente) 

Os blogs lucram (literalmente); o público perde


A estrutura dos blogs cria conteúdo artificial, que se torna real e tem impacto no resultado de eventos do mundo real.

 


 

Blogueiros brandem a correção como se fosse um bálsamo mágico que curaria todas as feridas. A realidade é esta: fazer uma afirmação é emocionante; corrigi-la não é. É muito mais provável que uma acusação se espalhe rapidamente do que a discreta admissão de erro dias ou meses depois.

 O que acontece é que a correção na verdade reintroduz a afirmação na mente do leitor e o força a repassá-la por seus processos mentais. Em vez de fazer o leitor descartar o pensamento anterior, que é o motivo pelo qual foi feita, a correção parece prender ainda mais a mente ao fato contestado.

Depois que a mente aceitou uma explicação plausível para algo, ela se torna um modelo para toda informação que é percebida depois. Somos levados, subconscientemente, a contorcer e encaixar todo conhecimento subsequente que recebemos nesse modelo, quer ele caiba ou não. Psicólogos chamam isso de rigidez cognitiva. Os fatos que formam uma premissa original se perdem, mas a conclusão permanece – o sentimento geral da nossa opinião flutua sobre o alicerce desmoronado que a estabeleceu. Excesso de informação, de trabalho, velocidade e emoção exacerbam esse fenômeno. Tudo isso torna ainda mais difícil que atualizemos nossas crenças ou permaneçamos com a mente aberta. Quando leitores repetem, comentam, reagem, e ouvem boatos – essas são ações que os blogs se esforçam para provocar –, tornam mais difícil para eles mesmos enxergar a verdade quando ela finalmente for apresentada.

 


APLAUDINDO NOSSA PRÓPRIA DESGRAÇA Nossas ilusões são a casa em que vivemos; elas são nossas notícias, nossos heróis, nossa aventura, nossas formas de arte, nossa própria experiência. — DANIEL BOORSTIN, THE IMAGE


  A mídia e o público deveriam estar do mesmo lado. A mídia, quando funciona adequadamente, protege o público contra marqueteiros e suas tentativas incessantes de enganar as pessoas para fazê-las consumir. Cheguei à conclusão que hoje não é mais assim. Marqueteiros e mídia – eu e os blogueiros – estamos no mesmo time, e com frequência demais você é manipulado para observar com atenção como nós o enganamos. E você nem sabe o que está acontecendo porque o conteúdo que recebe foi disfarçado para parecer notícia.

Editores online precisam encher espaço. As empresas precisam divulgar seus produtos. Juntos, blogueiros, marqueteiros e publicitários não conseguem evitar conspirar para atenderem uns às necessidades dos outros e assim disfarçarem as coisas artificiais e irreais como importantes. Por quê? Porque é assim que eles ganham dinheiro.

 Relações públicas e marketing são coisas que as empresas fazem para vender produtos. Não é importante, não é interessante. Mas, como é barato, fácil e lucrativo de se reportar, os blogs querem convencê-lo de que é importante e interessante. E nós basicamente aceitamos isso ao consumir lixo como se fosse notícia.

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