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05 novembro, 2025

[Curso] Escravidão Digital (2023)

 


Intro

Vejo que os homens tendem a conhecer as coisas na medida que elas tenham uma finalidade prática. Não faço nada disso. Quero entender as coisas para conhecer a verdade, e preciso escrever porque a minha memória não é boa o suficiente para eu guardar tudo na cabeça. Então escrevo e, no processo, vou meditando. Quando, finalmente, termino a investigação de um objeto e vejo ali alguma coisa, me vem aquela sensação de estar em casa”. (Hannah Arendt)

Curso excelente sobre como equilibrar a dopamina e redes sociais, jogos etc.


Trechos

Um estímulo para a caça

  • pornografia não é sexo. Muito pelo contrário. O sexo verdadeiro, no mundo concreto, não é uma experiência visual.

  • Inicialmente, os cientistas descreveram a dopamina — uma descoberta recente, de 1957 — como a molécula do prazer. No entanto, e aqui temos uma informação crucial para o curso inteiro, ela não é do prazer, mas do estímulo para a caça. A dopamina, no chamado circuito mesolímbico, faz com que o cérebro humano busque uma recompensa imediata e, por isso, nos estimula à caçada.


A molécula do futuro e a morte do agora

  • A dopamina em excesso tira a nossa capacidade de apreciar o agora. O viciado em descargas dopaminérgicas sempre está, mentalmente, em outro lugar, no futuro — como os pombinhos frenéticos da experiência de Skinner.

  • se ficamos sempre buscando uma recompensa futura imediata, fatalmente estamos distraídos da presença de Deus.

  • Diziam os antigos latinos: Age quod agis, “faça o que está fazendo”. Se estou aqui, falando com você, fique aqui, no agora, falando comigo; se você está ouvindo a esta aula, ouça-a realmente, e não fique, no meio tempo, procurando outras coisas no celular. 


Um carro sem freio

  • Coolidge Effect;

  • outra experiência importante que se observa em pessoas sob o efeito da dopamina: a perda de noção do tempo. 

  • nem tudo que se faz de errado tem origem numa “fraqueza moral”. Há uma forte tendência de abordar o problema da drogadicção pelo prisma moral, mas o discurso moralista, nesse caso, não é convincente.


O caminho para a libertação

  • os marqueteiros e as plataformas digitais transformaram nossos celulares em espécies de máquinas caça-níqueis (slot machines).

  • Mark Schuckit, citado no livro de Anna Lembke, Nação Dopamina, descobriu com outros colegas que, excluído o elemento viciante, leva duas semanas para a dopamina voltar aos níveis normais. Isso significa que, para largar o vício, é preciso atravessar duas semanas miseráveis, infernais. ( o ideal é ficar um mês sem o elemento)

  • Dopamine-deficient mice are severely hypoactive, adipsic, and aphagic (“Ratos com deficiência de dopamina são severamente hipoativos, não sentem sede; não sentem fome”).

Para além do cérebro

  •  Quando falamos de adicção, temos em vista um outro fenômeno, estudado nos últimos anos, que consiste em certas modificações no cérebro, neuronais, provocadas pelo uso de certas substâncias — como o álcool, a maconha, a cocaína, o crack e outras do gênero. A novidade é que, conforme descobertas recentes, essas mesmas modificações ocorrem, em grau menor, nas pessoas que consomem muita internet.

  • por que raios um ser humano caça conteúdos na internet? Ora, primeiro porque o ser humano é dotado de uma coisa chamada curiosidade, curiositas, em latim. 

  • a alma é causa suficiente de uma série de fenômenos para os quais o cérebro é somente a condição necessária. Se, então, usarmos um método físico para analisar fisicamente o cérebro, os resultados, obviamente, se limitarão à ordem física. Mas, se certos fenômenos humanos participam, também, da ordem espiritual, talvez o método adequado não seja o físico, mas o metafísico. 


Minha vida tem sentido, afinal?

  • Memento mori

  • O filósofo Olavo de Carvalho, por exemplo, fazia isso com seus alunos. Na primeira aula do Seminário de Filosofia, ele pedia que o aluno fizesse um necrológio. Necrológio é um texto de homenagem a um recém-falecido. Nesse exercício, o próprio aluno devia se imaginar morto e escrever o necrológio como a expressão resumida daquilo que as pessoas diriam de si diante do seu túmulo. Ou seja, o objetivo era o aluno conceber sua própria imagem acabada, sua biografia realizada, e tomar aquilo como meta para as suas ações presentes, de modo a fazer tudo em face daquele sentido último.  
  • precisamos nos dar conta de que só o ser humano produz certas doenças, porque só o ser humano tem alma, de modo que analisar o homem como se se tratasse de um macaco, fatalmente não vai funcionar. Trocando em miúdos, o primeiro passo para a cura é aquele velho conselho dos filósofos: conhece-te a ti mesmo.


Quem tem um porquê, aguenta qualquer como

  • A busca por sentido e a sobrevivência no inferno (Viktor Frankl) — E a vida, o que ela espera de você?

  • “Você possui um porquê na vida? Então, suporta quase todo como”. Ou, simplificando: “Se você tem um porquê, você aguenta o como”. 

  • “A pobreza fez alguns santos; a riqueza, nenhum”. É o que Jesus nos ensina: é muito difícil um rico entrar no Reino dos céus. E, veja, o problema não é o dinheiro. O problema é a sensação de já possuir tudo, aqui, agora, nesse mundo. 

Saindo da caverna

  • o mito da caverna de Platão.

  • nada é pesado para quem ama

  • Experiências já antigas, dos anos 50 e 60, ainda no advento da televisão, mostravam que crianças que passam o dia inteiro diante das telas desenvolvem menos a inteligência. 


O heroísmo dos que amam

  •  nosso cérebro, criado para um estado de privação, equipado com substâncias, como a dopamina, que nos motivam à caça sob a promessa de recompensa — que é a sobrevivência mesma —, está hoje experimentando um estado de abundância. O ambiente é outro, mas o cérebro é o mesmo. Efeito disso é o tédio, e a busca frenética por prazeres imediatos surge como suposto remédio.

  • Conhecendo perfeitamente esse mecanismo cerebral, as redes sociais e as plataformas, tomando lições com a indústria pornográfica, passaram a nos oferecer infinitamente essas recompensas fáceis. 

  • Acontece que, devido a estratégias de defesa do próprio cérebro, o internauta, como um cracudo, vai carecendo de doses cada vez maiores para um “barato” cada vez menor. Eis o caminho, do ponto de vista físico, para a escravidão digital.
  • Dentre as virtudes, há uma, fundamental para nós neste curso, que é a temperança. É a temperança, como o nome sugere, que dá o tempero de nossa vida. Ora, na gastronomia sabemos que o bom tempero é o equilibrado: nem muito doce, nem muito amargo. Isso também se aplica às questões morais: os prazeres nos são necessários, mas, às vezes, a verdade e a justiça, realidades que a inteligência nos revela, nos levam a dissabores — e devemos aceitá-los com bom gosto.

A experiência de Agostinho

  • exemplo de Santo Agostinho. Ele, antes de se converter, também vivia num estado de dependência. Ele tinha um relacionamento proibido com a mulher que lhe deu seu filho, Adeodato. A dada altura, por questões sociais, eles romperam o romance, mas Agostinho, em termos sexuais, achava-se como um dependente químico, acreditava que não podia viver sem aquilo. 
  • Quando, porém, ele se batizou, entrou em contato com a graça cristã e passou a conviver com pessoas que igualmente buscavam a verdade, se viu livre daqueles impulsos e pôde viver uma vida casta — e essa liberdade inicial, essa primeira cadeia rompida, fez com que ele se libertasse também de outros vícios, até que se tornasse o grande Doutor da Fé e Santo da Igreja.


A experiência do Filho Pródigo

  • Tudo começou quando o rapaz, que estava morto, espiritualmente morto, arrependeu-se, rezou, reencontrou o caminho e voltou para casa. É preciso que façamos isso também. 


Você tem hora de comer e de dormir?

  • Todos os dias precisamos fazer um ensaio da morte, que é dormir. Quando morrermos, é muito provável que deixemos atividades inacabadas. Com relação ao sono, é a mesma coisa: a não ser que sejam afazeres de vital importância, indispensáveis para a salvação das almas, temos que deixá-los para o dia seguinte. Temos que decidir encerrar o dia. E não adianta prolongá-lo artificialmente. Antigamente, a baliza do sono era colocada pela atmosfera: anoitecia, era tempo de se preparar para dormir. A tecnologia nos deu a luz elétrica; não há mais a escuridão que atraía o cérebro para o sono. Precisamos portanto utilizar um outro lembrete: o despertador. As pessoas costumam usar o despertador para acordar, mas o certo é utilizá-lo para dormir. Pois é evidente que não adianta planejar acordar às seis quando se vai dormir às duas. Então, finque a primeira baliza: conforme suas possibilidades reais, estabeleça um horário para dormir. Só depois fixe um horário para acordar.

Conclusão


Recomendo d+.

abs!

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Referências bibliográficas

  • Lisa Feldman Barrett, How Emotions Are Made: The Secret Life of the Brain. Boston: Mariner Books, 2018.

  • Lisa Feldman Barrett, Sete lições e meia sobre o cérebro. Lisboa: Temas e Debates, 2022.

  • Mary Eberstadt; Mary Anne Layden, Os custos sociais da pornografia: Oito descobertas que põem fim ao mito do “prazer inofensivo”. São Paulo: Quadrante, 2019.

  • Dra. Anna Lembke, Nação dopamina: Por que o excesso de prazer está nos deixando infelizes e o que podemos fazer para mudar. São Paulo: Vestígio, 2021.

  • Daniel Z. Lieberman MD; Michael E. Long, The Molecule of More: How a Single Chemical in Your Brain Drives Love, Sex, and Creativity—And Will Determine the Fate of the Human Race. Dallas: BenBella Books, 2018.

  • Thibaut Meurisse, Dopamine detox: A Short Guide to Remove Distractions and Get Your Brain to Do Hard Things. Orlando: 2021.

  • Fred H. Previc, The Dopaminergic Mind in Human Evolution and History. Cambridge: Cambridge University Press, 2011.

  • Joseph C. Sciambra, Swallowed by Satan: How Our Lord Jesus Christ Saved Me from Pornography, Homosexuality, and the Occult. SOS Publishing, 2013.

  • Ben Shapiro, Geração pornô: como o liberalismo moderno está corrompendo o nosso futuro. Campinas: Vide Editorial, 2021.

  • Dr. Manfred Spitzer, Demencia Digital: El peligro de las nuevas tecnologías. Barcelona: Ediciones B, 2013.

  • William M. Struthers, Wired for Intimacy: How Pornography Hijacks the Male Brain. Downers Grove: IVP Books, 2009.

  • William M. Struthers, Programados para Intimidade: Como a Pornografia Sequestra o Cérebro dos Homens. Fundão: Edições Cristo e Livros, 2022.

  • Gary Wilson, Your Brain on Porn: Internet Pornography and the Emerging Science of Addiction. Commonwealth Publishing, 2017.


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