[Livro] Faça fortuna com ações (2017)

 

indicação do Frugal Simples


O fato é que no mercado especulativo todo lucro não realizado é ilusão.


Todo aquele que julga poder controlar-se para colher os lucros, e afastar-se do Mercado, com certeza nunca participou de jogadas especulativas em que ganhou consistentemente. Os que sentem o gosto da vitória não param. O jogador simplesmente engolfa-se nos trâmites do jogo e sua mente não se interessa por nada mais. Ele não sai não porque não queira, mas porque alguma força acima da sua vontade o segura.



Para nós, Investidores, o que menos interessa é que o nosso patrimônio se valorize. O que desejamos é que as empresas das quais somos acionistas cumpram com a sua obrigação legal e elementar de distribuir a parcela dos lucros a que temos direito como sócios. É muito desonesta ainda a afirmação de que para o acionista – esse débil mental que precisa tutelado, já que não sabe onde aplicar seu dinheiro – é melhor não receber dividendos e deixá-los com a empresa.
 

A revista FORTUNE não demonstra nem respeito nem simpatia para com os pequenos acionistas, ao discutir a questão da necessidade que eles têm de receber dividendos. A certa altura, sugere-se que, “se precisarem de dinheiro, (os acionistas) poderão converter os papéis em moeda”, ou seja, vendê-los. É insinuação velhaca. Para quem comprou ações a fim de obter rendimento, se possível perpétuo, com a intenção de mantê-las em seu poder durante o tempo em que delas receberem remuneração, esse conselho é inaceitável, beirando o insulto.
 

Atente, leitor, para este pormenor: os dividendos são perpétuos e transmissíveis para os descendentes do Investidor. Não são como os benefícios da previdência, que, além de baixos, cessam com a morte do contribuinte.
 

O estudo que realizamos teve um final característico. A instituição pagou caro pelo trabalho, mas jamais o utilizou no objetivo a que se propunha, qual seja a publicidade. Não era para menos. Nós concluímos o estudo deixando claro que a previdência social – oficial ou particular – é mau negócio para o associado. A pessoa contribui durante largo período da sua vida de adulto e depois se aposenta com a esperança de passar a receber uma quantia mensal que mantenha seu padrão de vida. Mas logo em seguida percebe com amargura que a pensão que lhe pagam está longe de lhe assegurar o padrão de que desfrutava no tempo em que estava na ativa. Os índices de correção das pensões são fixados pelo governo, que, desonestamente, manda pagar menos que a taxa de corrosão da moeda. Essa política cruel, mas sistemática, faz com que as pensões decresçam de maneira gradual, quase imperceptível, o que só é constatado depois de alguns anos, quando a vítima não tem mais possibilidade de reagir.
 

Em matéria de dinheiro, na Bolsa como na vida, você está sempre só. Prepare-se para tomar atitudes sozinho e também para nunca repartir responsabilidades nem vantagens.
 

Casa própria é a base da vida. Ter casa própria livra a pessoa de inumeráveis dissabores, o menor dos quais é ter de periodicamente procurar moradia e submeter-se às humilhações que são impostas pelas administradoras de imóveis.


O investimento em Bolsa não pode ser considerado um pomar em que você planta a árvore para usufruir de frutos e de sombra para o resto da vida. Você pode ter escolhido a semente errada ou não ser apropriado o solo em que plantou a árvore e, no final, depois de muitos anos, poderá não haver nem frutos nem sombra. Na Bolsa não há compras definitivas. Se você compra uma ação que não deu certo, será vital para sua sobrevivência que mude para outra ação.

 

Reaplicar ou gastar são, em suma, dois objetivos divergentes e inconciliáveis. Parece lógico admitir que, se não se precisar de dinheiro, é melhor deixar que o investimento amadureça para só depois passar-se a usufruir dos seus rendimentos.
 

A noção de que as Bolsas podem constituir a solução para muitos problemas vem do começo deste século, quando corretores astutos tentaram difundir nos Estados Unidos a ideia do “Capitalismo do Povo”. Não deu certo. Não que os operários não estivessem dispostos a adorar o bezerro de ouro. Estavam. A questão é que mal ganhavam para comer e não sobrava nada para investir. Ainda hoje é assim.
 

Dentro das regras do Sistema, o proletariado jamais chegará ao Paraíso. Mas a classe média pode chegar lá, se mudar seus hábitos de consumismo inútil e aplicar corretamente suas sobras de capital.
 

Day-trades são modalidade puramente especulativa, constituindo jogo e nada mais do que isso.
 

Você sempre deve investir o dinheiro que tiver disponível e que não faça falta. E deixar o barco correr. Com o passar do tempo, você verá muitas baixas e muitas altas. Verá também booms estonteantes e crashes arrasadores. Para o Investidor, um crash é esperança de novo dia; para o Especulador, pode ser a sentença final. É preciso que você se conscientize de que booms e crashes se revezam continuamente, para ficar alerta e evitar as armadilhas que em ambos ocorrem.


Para mim, ação sem dividendo é como se não existisse. Só passará a existir quando a empresa pagar dividendos com bom cash-yield, não uma vez, mas sempre e de forma sólida e crescente, compatível com o preço de venda. A situação ideal no Mercado seria aquela em que um papel só se valorizasse quando a empresa pagasse dividendo melhor.
 

Enquanto os práticos ganham dinheiro, os teóricos se realizam fazendo adeptos. Ultimamente, leitores têm me pedido para ajudá-los a interpretar “topos duplos”, “gaps de quebra” e “retas de pescoço”. Outros falam com desembaraço a respeito de efficient markets, contrary opinions e índices beta de risco. Barbaridade. Bolsa não é nada disso. Os Investidores deveriam comprar ações com a mentalidade das mulheres que compram laranjas nas feiras. Elas só se preocupam em distinguir as laranjas doces das azedas e pagar o preço mais barato possível.
 

Multidões de Investidores da Bolsa nunca especularam. São pessoas que não cursaram faculdades, que não sabem para que serve a matemática financeira, que não usam computadores em seus negócios particulares e que falam a nossa linguagem de homens comuns, mas que conquistaram a independência financeira no mercado de ações aplicando sistematicamente um capital que não fazia falta nas despesas do dia a dia. Comprar, comprar e comprar ações de empresas sólidas até alcançar o objetivo final, e ficar longe do agitado mundo da Bolsa e das suas más influências, eis o segredo. É conselho prático, decepcionante pela sua simplicidade e que por isso mesmo as pessoas de mente complicada relutam em aceitar.
 

mais de 95% das ações apregoadas nas Bolsas de Valores de todo o mundo são negociadas não pelo que valem, mas por preços escandalosamente falsos e sem nenhuma correspondência com valores intrínsecos.
 

A Análise Gráfica é tão conclusiva quanto as profecias de Nostradamus. Só depois que os fatos acontecem é que os experts conseguem localizar o texto que os tinha vaticinado.
 

Boom é prenúncio de crash. A massa de dinheiro irresponsável que entra no mercado é tão grande que as cotações sobem a níveis incontroláveis e atingem patamares que os profissionais logo reconhecem como sendo irreais. Para os verdadeiros profissionais, é tempo de colheita. Eles embolsam os seus lucros e se retiram para uma distância prudente, deixando o campo aberto para a turba predatória. E a Bolsa vira pandemônio. Estabelecido o caos, a autoridade intervém e a algazarra termina, com grande frustração dos participantes. Eles então caem na realidade, recolhem o que podem salvar e vão para casa envergonhados.
 

Lembro-me de que como Investidor da Bolsa não foram muitas as ocasiões em que tive de vender apressadamente minha participação em empresas, ao menor indício de trapaças. Mas, se devido a alguma decepção tive de vender, vendi sem hesitar. Decisões desse tipo livraram-me de muitos dissabores.

LEMBRETES

• Preços não sobem nem descem na Bolsa de Valores; são puxados ou derrubados.
• Na Bolsa, como no amor, é melhor esquecer os maus momentos.
• Ter dinheiro e perdê-lo é pior do que nunca tê-lo tido.
• Há duas coisas que incomodam na Bolsa: os prejuízos da gente e os lucros dos outros.
• O futuro recompensa os que têm paciência com ele.
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livro que inspirou Bazin
foto de Tiago Guitián Reis


3 comentários:

  1. Olá, Scant. Concordo com quase tudo. Eu li esse livro ha bastante tempo e não me lembrava muito bem dos detalhes, acho que não fiz anotações sobre ele na época pois, ao que me parece, quase todos os livros que falam sobre ensinamentos de bolsa e não de algum tipo de análise falam sobre os mesmos temas.

    Quanto ao day-trade e especulações, acho válido que exista. São esses caras que dão a liquidez do papel para necessidades em que precisamos vender e embolsar o dinheiro.
    Também não sou adepto de comprar ações que não paguem dividendos. Meu principal objetivo com investimentos é poder, em algum momento, fugir de problemas futuros (trabalho excessivo, depender do governo, possíveis doenças e compra de bens futuros) e isso é cumprido quando entra renda recorrente e não preciso ficar olhando preços de ação a todo momento. Pra mim não faz sentido criar um problema maior ainda pra resolver (entender o mercado, ficar fazendo análises complexas de balanço de empresa, entender análise técnica muito a fundo, etc..) fazer isso é igual a continuar meu trabalho todos os dias (a menos que o cara odeie seu trabalho e ame analisar gráficos, senso só uma escolha errada de profissão, no final).

    Quanto a casa própria, também partilho dessa opinião de que ter sua casa é de essencial importância. O problema é conseguir comprar uma casa hoje em dia com os preços subindo as nuvens. Logo, só será possível comprar casas em regiões distantes dos grandes centros e em cidades menores. Se darão bem quem priorizar profissões em que o homme office seja majoritário.

    Abraços!!

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    1. obrigado por comentar

      gosto de ações, mas aqui no Brasil a valorização tá difícil
      ultimamente tenho gostado mais de FII, enquanto o novo governo não tributar dá um trocado razoável
      pelo menos 1 imóvel físico na carteira faz sentido (reserva para dias complicados)

      abs!

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    2. ps - daqui a pouco o brasil vira argentina e o jeito é dolarizar o patrimonio...

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Memento mori...carpe diem!