[Curso] Caminho de Perfeição (2023)

 


Intro

"Seguindo passo a passo o livro Caminho de Perfeição, de S. Teresa d’Ávila, Padre Paulo Ricardo nos explica as condições básicas para termos vida de oração, os meios que a ascética cristã põe a nosso dispor para crescermos em santidade e as etapas que, na vida interior, nos vão preparando para a íntima união com Jesus Cristo."


Curso bastante profundo.

Nunca imaginei que esse conhecimento pudesse ser passado de maneira tão didática.


Resumo resumido


  • A bibliografia de Teresa tem início com o "Livro da Vida", um registro autobiográfico, em que a santa revela os fenômenos místicos com que foi agraciada por Deus. Esta obra foi censurada pela Inquisição Espanhola, que não desejava que as carmelitas tivessem acesso a tais informações. Portanto, o "Caminho de Perfeição" era o primeiro escrito de Teresa que as monjas liam.


  • Para compreender o que é a virtude da fé, é necessário definir o seu ato principal, que é crer (credere). Segundo Tomás, crer consiste em "um ato do intelecto que se define por um objeto, por ordem da vontade" (Summa Theologiae, II, II, q. 4, a. 1). Para tornar concreta essa definição, tome-se o exemplo que segue. Um médico receita um remédio para um paciente. Este, por sua vez, pode até entender que aquilo é bom para si (ato do intelecto), mas, se não determinar-se a tomar o remédio (por ordem da vontade), tudo será em vão. Para uma fé meramente humana, isso basta. Na fé sobrenatural, porém, é preciso que venha em auxílio do homem a graça divina. Esta age na alma, seja iluminando a inteligência, seja movendo a vontade a acreditar. Por que é necessário esse socorro do alto? Por conta da sublimidade das verdades divinamente reveladas, às quais seria muito difícil assentir sob um aspecto meramente natural. O fato, e.g., de que Deus – o onipotente criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis – ame e se preocupe com um ser insignificante como o ser humano, é algo por demais extraordinário, o qual, sem a luz divina, dificilmente se poderia aceitar.


  • Há as virtudes adquiridas (ou naturais) e as infusas (ou sobrenaturais). Os nomes usados para classificá-las indicam a sua causa eficiente, i.e., de onde vieram: enquanto as primeiras são alcançadas pelo próprio esforço humano – quando uma pessoa pratica repetidamente o mesmo ato –, as segundas são infundidas por Deus na alma humana. Os pagãos conheceram o primeiro gênero de virtudes: Aristóteles e Platão falaram delas e, ainda hoje, é possível achar muitas dessas "virtudes humanas" em homens aparentemente sem nenhuma fé ou prática religiosa. As virtudes infundidas por Deus, porém, são essencialmente diferentes daquelas, já que possuem uma finalidade e um objeto formal infinitamente superiores: a vida eterna – em contraposição a esta vida terrena – e o bem segundo a luz sobrenatural da fé – em contraposição à mera luz natural da razão. Para além de realizar os atos convenientes à sua natureza racional, as virtudes sobrenaturais são dadas ao homem para que ele corresponda adequadamente à natureza divina da qual ele agora participa pela graça (cf. 2 Pd 1, 4) .

  • Para curar o problema da dispersão involuntária, o Fr. Maria-Eugênio aponta três remédios principais.


      • O primeiro é a discrição, com base nas próprias palavras de Sta. Teresa, para quem uma alma nesse estado "não deve afligir-se, porque é pior":


      • "Muitíssimas vezes (tenho enorme experiência disso, e sei que é verdade, porque o examinei com cuidado e disso tratei com pessoas espirituais) tudo vem da indisposição corporal; somos tão miseráveis que essa pobre alma está aprisionada aos males do corpo; e as mudanças do tempo e variações dos humores muitas vezes fazem com que, sem culpa, ela não possa fazer o que quer, padecendo de todas as maneiras. Nesses momentos, quanto mais a quisermos forçar, tanto pior e mais duro será o mal; nesse caso, é preciso ter discrição para ver quando se deve fazer o quê, para não atormentar a pobre. Que elas percebam que estão doentes e mudem a hora da oração, o que amiúde durará alguns dias. Suportem como puderem esse desterro, pois é grande a desventura da alma amante de Deus ao ver que passa por essa desolação, sem poder fazer o que quer, por ter um hóspede tão ruim quanto o corpo."


      • "Eu disse 'ter discrição' porque às vezes o demônio age. Assim, é bom que não se deixe sempre a oração quando se está muito distraído e perturbado no intelecto, nem se atormente sempre a alma, obrigando-a a fazer o que não pode."


      • "Há outras ocupações além de obras de caridade e de leitura, mesmo que por vezes nem isso seja possível. Sirva-se então ao corpo por amor a Deus, para que ele, em muitas outras ocasiões, sirva à alma; dedique-se o tempo a conversas virtuosas ou a passeios pelo campo, segundo o conselho do confessor. Em tudo, vale muito a experiência, que nos dá a entender o que nos convém e nos faz ver que em tudo servimos a Deus. Suave é o seu jugo, e muito vale a pena não arrastar a alma, como se diz, mas levá-la com suavidade para seu maior aproveitamento." (Livro da Vida, XI, 15-16)

      • O segundo é a perseverança, a única "capaz de assegurar o êxito na oração". Ela precisa estar "voltada não só para o exercício da própria oração, mas também para a ascese de recolhimento que deve acompanhá-la. É preciso guardar os sentidos durante o dia, preservar-se das frivolidades que dissipam e, dirigir-se, tão frequentemente quanto possível, para o Mestre por meio de jaculatórias ou dos atos das virtudes teologais" [4]. Nesse trecho de sua obra, Fr. Maria-Eugênio cita a passagem do Livro da Vida em que Santa Teresa comenta o mínimo de "duas horas por dia" de oração para se obter uma efetiva conversão (cf. Livro da Vida, VIII, 6).


      • Por fim, o último remédio é o da humildade, para que a alma seja capaz de enxergar cada vez com mais clareza qual a condição de seu estado decaído.


      • Cabe lembrar que essas distrações, autorizadas pela Divina Providência, inserem-se no amoroso desígnio de amor que o Pai tem para nós. Ele quer que cresçamos em Sua amizade e, por isso, permite que nos venham provações. Como diz a própria Santa Teresa, porém, "tudo passa". Focando-nos na eternidade, enfrentaremos com bravura as peripécias deste vale de lágrimas.



Conclusão


A vida crucificada dos santos nos ensina que os sofrimentos não são desgraças, mas pepitas de ouro, pedras preciosas para adornar a coroa do Rei. A condição para serem fecundos é que sejam livremente aceitos por nós – como fizeram Maria diante do anúncio do anjo (cf. Lc 1, 38) e Jesus às portas da morte (cf. Mt 26, 39). O fruto disso é uma grande consolação e felicidade. Na verdade, embora não pareça, há uma grande alegria em abraçar a Cruz, como atesta Santa Teresa: "Já experimentei e tenho grande experiência do lucro que obtenho ao entregar livremente a minha vontade à Vossa" (C. de Perf., XXXII, 4).


Recomendo.

abs!


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Bibliografia

GABRIEL DE SANTA MARIA MADALENA, Frei. Oração e Vida Mística. Cultor de Livros. 282p.

Santa Teresa de Jesus: Mestra de vida espiritual. Paulus, 1997. 168p.

MARIA-EUGÊNIO DO MENINO JESUS, Frei. Quero ver a Deus (trad. do Carmelo do Imaculado Coração de Maria e Santa Teresinha). Petrópolis: Vozes, 2015.

MÊS EUCARÍSTICO. Edições CNBB.

PEDRO PAULO DI BERARDINO, Frei. Itinerário espiritual de Santa Teresa da Ávila. 7.ª ed. Paulus, 2013. 240p.

SESÉ, Bernard. Teresa de Ávila: Mística e andarilha de Deus. Paulinas. 152p.

3 comentários:

  1. Quem é Santa Teresa perto de MC PIPOKINHA?????

    Fiquei curioso e encontrei isso daqui rapidamente: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1307200319.htm
    (Número de candidatas a freira cai 71% em 40 anos)
    Quase ninguém mais quer vida religiosa e os que querem, muitas vezes, são para motivos escusos (estelionato, transar com o rebanho, comer coroinhas etc). A esquerda merece todo o reconhecimento por isso: conseguiu ocupar igrejas e tempos em sua quase totalidade. Depois do Papa Chico, nada mais me surpreender.
    O ocidente finalmente conseguiu o que sempre quis mas tinha vergonha de assumir: vida hedonista, fazer tudo o que "seja da Lei".

    Tentar se tornar uma pessoa melhor é árduo. E se for tentar, o faça bem distante de igrejas e templos, ambientes nocivos, tóxicos e imundos.

    Abraços

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    1. parece que a igreja só cresce em números na África, de resto é ladeira abaixo

      em breve o ocidente será muçulmano e todos seremos religiosos orando várias vezes por dia sob pena de açoite

      realmente achar um boa igreja deve ser difícil, mas é possível visitar algum lugar razoável, assistir o culto/missa e sair sem falar com ninguém - se eu não tivesse, preguiça voltaria a fazer isso

      abs!

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    2. Acho que os muçulmanos não procurarão converter ninguém à fé islâmica. Vão é matar mesmo. O ocidente só tem frouxo.

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