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essa capa lembra-me das capas da Ed. Abril, na época que o valor do gibi era tabelado |
Introdução
Por meio da narrativa da histórica rivalidade de duas editoras, o autor consegue dar sentido a décadas de quadrinhos.
Consumi quadrinhos principalmente na década de 90, no começo de minha vida de leitor - simplesmente era impossível pra mim filtrar a quantidade de referências das melhores estórias, principalmente quando se lembra que Marvel e DC já estavam por aí há décadas:
"A DC nasceu na década de 1930, os principais heróis da Marvel só viriam a surgir mais de 25 anos depois. Se a DC representa os Estados Unidos de Eisenhower, a Marvel é como o país de John F. Kennedy. A editora era mais jovem, mais descolada e provavelmente estava indo para a cama com alguém. A Marvel moderna que chegou em 1961 rapidamente sacudiu a indústria de quadrinhos de uma forma que refletia os dramáticos sofrimentos culturais e políticos que todo o país estava experimentando."
Um livro que fazia falta no mercado antes de existir
Alguns Comentários
Analisando a rivalidade histórica das editoras pelo ponto de vista econômico, tudo passa a fazer sentido:
Fica claro que os quadrinhos são o reflexo da época em que foram editados:"Por mais que os leitores gostem de romantizar o negócio dos quadrinhos, é exatamente só isso: um negócio. Art Spiegelman, ganhador do prêmio Pulitzer, responsável por Maus – A História de um Sobrevivente, chama os quadrinhos de “a cria bastarda da arte e do comércio”. E dinheiro (medido em parte pelas vendas) ainda é um dos componentes mais importantes em cada uma dessas edições que você colocou em um papelão, ensacou e guardou com amor no armário – se não para os autores envolvidos, então certamente para seus chefes corporativos em seus aquários."
"O Superman de 1938 era um herói muito mais pé no chão (literalmente) do que a versão que ele evoluiria para ser posteriormente. Seus poderes eram limitados. Ele não podia voar. Em vez disso, tinha o poder de apenas saltar duzentos metros. Ele tinha uma força aumentada, mas estava longe de ser invulnerável. Diziam que um morteiro seria capaz de perfurar sua pele. Os tipos de casos que ele escolhe lidar são igualmente mundanos. Em suas primeiras aparições, ele jogou contra a parede um marido que espancava a mulher, revelou um sistema judicial corrupto e acabou com um linchamento. Superman agia menos como o benfeitor de coração de ouro que se tornaria mais tarde e mais como um ativista hippie que poderia morar no fundo do corredor da sua república universitária."
Muita gente pode achar que a lacração (apelação) é algo recente, mas ela existe desde os primórdios dessa indústria, sendo mais uma ferramenta de ganha-pão dos editores. No passado, a preocupação com o leitor era ainda menor:
"A indústria dos quadrinhos é cíclica, com gêneros e personagens entrando e saindo de moda como um jeans de cintura alta. Faroestes foram quentes por alguns anos, depois sumiram. Quadrinhos de romance estavam a toda, depois era impossível conseguir um exemplar de Flaming Love. O mesmo tem sido verdade para os super-heróis. Cerca de dez anos depois de Superman ter aparecido pela primeira vez, o público começou a ficar um pouco entediado com a ideia de superpoderes, e o gênero vacilou. Títulos foram cancelados por todo o mercado, inclusive alguns na DC. As aventuras do herói que possuía o anel, o Lanterna Verde, chegou a um fim abrupto em 1949, e em 1951 a DC desceu o machado na Sociedade da Justiça da América, uma superequipe composta pelo rol de personagens da editora da época da Segunda Guerra Mundial, incluindo Gavião Negro, Homem-Hora e Senhor Destino."
(...)
“Eu ressaltei que o leitor médio de quadrinhos começava a lê-los aos oito anos e os abandonava aos doze”, o falecido Schwartz escreveu em sua autobiografia, Man of Two Worlds. “E uma vez que mais de quatro anos já haviam passado, existia um público totalmente novo que realmente não sabia que o Flash tinha fracassado, e talvez eles pudessem dar uma chance.”
A Marvel hoje é a líder inconteste tanto no mercado de quadrinhos quanto no de filmes baseados em super-heróis. Contudo, o começo dela foi bem humilde:
Por grande parte do começo da sua vida, a Marvel era o equivalente a uma banda cover ruim. Era menos “A Casa das Ideias”, como ficaria conhecida posteriormente, e mais “a casa das ideias das outras pessoas”. “Éramos uma empresa de macacos de imitação”, Stan Lee diz da empresa à qual ele se juntou em 1940, como office boy.
(...)
O chefe da Marvel, uma vez, resumiu sua estratégia de negócios como “se você conseguir um título que se popularize, então acrescente mais alguns e vai ter um bom lucro”.
(...)
Durante os anos 1940 e 1950, a Marvel saltou de moda em moda, com pouca originalidade ou vanguardismo em evidência. Quando os quadrinhos policiais começaram a decolar, a Marvel deu aos leitores Lawbreakers Always Lose [Contraventores sempre perdem] e All-True Crime [Só crimes de verdade]. Se a Turma do Pernalonga e animais divertidos eram a coisa do momento, ela empurrava o Wacky Duck. Quando faroestes de segunda começaram a fazer sucesso em Hollywood, a Marvel desenrolou Ted Chicote e o Arizona Kid. A empresa até publicou um título chamado Homer the Happy Ghost, que tinha mais do que uma simples semelhança com Gasparzinho, o Fantasminha Camarada.
(...)
“Martin achava, naqueles dias, que nossos leitores eram crianças muito, muito pequenas, ou então pessoas mais velhas que não eram muito inteligentes, ou não estariam lendo quadrinhos”, Lee disse em um comentário em áudio em 2006 para o livro Stan Lee’s Amazing Marvel Universe. “Eu não acho que Martin tivesse mesmo grande respeito pela mídia, e, por isso, recebi a ordem de não fazer histórias que fossem muito complexas, não me alongar demais em diálogos ou em caracterizações.”
Tudo começou a mudar com a lendário pareceria Stan Lee e Jack Kirby:
Em 1961, Kirby e Lee se uniram para um novo tipo de história de super-herói, e os resultados seriam muito mais memoráveis. O que eles criaram foi uma equipe de aventureiros que ganham poderes fantásticos depois de voar para o espaço e ser bombardeados por raios cósmicos. O cientista Reed Richards, também conhecido como Sr. Fantástico, ganha a habilidade de esticar seu corpo como elástico. Sua namorada, Sue Storm, tem o poder de se tornar invisível e ganha o codinome de Garota Invisível. O irmão dela, Johnny Storm (o Tocha Humana), descobre-se capaz de explodir em chamas, e o amigo de Reed, Ben Grimm (o Coisa) é transformado em um monstro laranja de pedras. Parece bem ordinário, e o conceito tem alguns ecos de uma HQ que Kirby fez para a DC em 1957, Desafiadores do Desconhecido, sobre um grupo de quatro aventureiros que sobrevivem a um acidente de avião e enfrentam missões.
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Por mais que os leitores gostem de romantizar o negócio dos quadrinhos, é exatamente só isso: um negócio. Art Spiegelman, ganhador do prêmio Pulitzer, responsável por Maus – A História de um Sobrevivente, chama os quadrinhos de “a cria bastarda da arte e do comércio”. E dinheiro (medido em parte pelas vendas) ainda é um dos componentes mais importantes em cada uma dessas edições que você colocou em um papelão, ensacou e guardou com amor no armário – se não para os autores envolvidos, então certamente para seus chefes corporativos em seus aquários.
A DC nasceu na década de 1930, os principais heróis da Marvel só viriam a surgir mais de 25 anos depois. Se a DC representa os Estados Unidos de Eisenhower, a Marvel é como o país de John F. Kennedy. A editora era mais jovem, mais descolada e provavelmente estava indo para a cama com alguém. A Marvel moderna que chegou em 1961 rapidamente sacudiu a indústria de quadrinhos de uma forma que refletia os dramáticos sofrimentos culturais e políticos que todo o país estava experimentando.
O Superman de 1938 era um herói muito mais pé no chão (literalmente) do que a versão que ele evoluiria para ser posteriormente. Seus poderes eram limitados. Ele não podia voar. Em vez disso, tinha o poder de apenas saltar duzentos metros. Ele tinha uma força aumentada, mas estava longe de ser invulnerável. Diziam que um morteiro seria capaz de perfurar sua pele. Os tipos de casos que ele escolhe lidar são igualmente mundanos. Em suas primeiras aparições, ele jogou contra a parede um marido que espancava a mulher, revelou um sistema judicial corrupto e acabou com um linchamento. Superman agia menos como o benfeitor de coração de ouro que se tornaria mais tarde e mais como um ativista hippie que poderia morar no fundo do corredor da sua república universitária.
A indústria dos quadrinhos é cíclica, com gêneros e personagens entrando e saindo de moda como um jeans de cintura alta. Faroestes foram quentes por alguns anos, depois sumiram. Quadrinhos de romance estavam a toda, depois era impossível conseguir um exemplar de Flaming Love. O mesmo tem sido verdade para os super-heróis. Cerca de dez anos depois de Superman ter aparecido pela primeira vez, o público começou a ficar um pouco entediado com a ideia de superpoderes, e o gênero vacilou. Títulos foram cancelados por todo o mercado, inclusive alguns na DC. As aventuras do herói que possuía o anel, o Lanterna Verde, chegou a um fim abrupto em 1949, e em 1951 a DC desceu o machado na Sociedade da Justiça da América, uma superequipe composta pelo rol de personagens da editora da época da Segunda Guerra Mundial, incluindo Gavião Negro, Homem-Hora e Senhor Destino.
“Eu ressaltei que o leitor médio de quadrinhos começava a lê-los aos oito anos e os abandonava aos doze”, o falecido Schwartz escreveu em sua autobiografia, Man of Two Worlds. “E uma vez que mais de quatro anos já haviam passado, existia um público totalmente novo que realmente não sabia que o Flash tinha fracassado, e talvez eles pudessem dar uma chance.”
A edição de outubro de 1956 chocou a Nacional com seu sucesso. Vendeu 59 por cento da tiragem de 350 mil exemplares. Uma sequência foi agendada rapidamente e o Flash retornou oito meses depois na Showcase nº 8, depois de novo na nº 13 e na nº 14. As edições subsequentes também venderam bem, e o personagem foi promovido para seu próprio título. Flash estreou em 1959, embora na edição nº 105, em vez da nº 1, seguindo a numeração de onde a série do personagem anterior havia parado em 1949.
Por grande parte do começo da sua vida, a Marvel era o equivalente a uma banda cover ruim. Era menos “A Casa das Ideias”, como ficaria conhecida posteriormente, e mais “a casa das ideias das outras pessoas”. “Éramos uma empresa de macacos de imitação”, Stan Lee diz da empresa à qual ele se juntou em 1940, como office boy.
O chefe da Marvel, uma vez, resumiu sua estratégia de negócios como “se você conseguir um título que se popularize, então acrescente mais alguns e vai ter um bom lucro”.
Durante os anos 1940 e 1950, a Marvel saltou de moda em moda, com pouca originalidade ou vanguardismo em evidência. Quando os quadrinhos policiais começaram a decolar, a Marvel deu aos leitores Lawbreakers Always Lose [Contraventores sempre perdem] e All-True Crime [Só crimes de verdade]. Se a Turma do Pernalonga e animais divertidos eram a coisa do momento, ela empurrava o Wacky Duck. Quando faroestes de segunda começaram a fazer sucesso em Hollywood, a Marvel desenrolou Ted Chicote e o Arizona Kid. A empresa até publicou um título chamado Homer the Happy Ghost, que tinha mais do que uma simples semelhança com Gasparzinho, o Fantasminha Camarada.
“Martin achava, naqueles dias, que nossos leitores eram crianças muito, muito pequenas, ou então pessoas mais velhas que não eram muito inteligentes, ou não estariam lendo quadrinhos”, Lee disse em um comentário em áudio em 2006 para o livro Stan Lee’s Amazing Marvel Universe. “Eu não acho que Martin tivesse mesmo grande respeito pela mídia, e, por isso, recebi a ordem de não fazer histórias que fossem muito complexas, não me alongar demais em diálogos ou em caracterizações.”
Em 1961, Kirby e Lee se uniram para um novo tipo de história de super-herói, e os resultados seriam muito mais memoráveis. O que eles criaram foi uma equipe de aventureiros que ganham poderes fantásticos depois de voar para o espaço e ser bombardeados por raios cósmicos. O cientista Reed Richards, também conhecido como Sr. Fantástico, ganha a habilidade de esticar seu corpo como elástico. Sua namorada, Sue Storm, tem o poder de se tornar invisível e ganha o codinome de Garota Invisível. O irmão dela, Johnny Storm (o Tocha Humana), descobre-se capaz de explodir em chamas, e o amigo de Reed, Ben Grimm (o Coisa) é transformado em um monstro laranja de pedras. Parece bem ordinário, e o conceito tem alguns ecos de uma HQ que Kirby fez para a DC em 1957, Desafiadores do Desconhecido, sobre um grupo de quatro aventureiros que sobrevivem a um acidente de avião e enfrentam missões.
No mundo do Quarteto Fantástico, poderes não necessariamente levavam à alegria; se serviam para alguma coisa, era para ser fonte de mais problemas. Os quatro reagiram às suas novas habilidades como uma cena tirada diretamente de um filme de terror. O Coisa fica deprimido por estar preso em sua forma pedregosa e laranja. Sue fica aterrorizada quando começa a desaparecer. Outro toque inovador: os personagens discutiam um com o outro como crianças em uma longa viagem de carro.
Os heróis da DC eram insossos, mais estáveis e menos propensos a serem consumidos por suas emoções. Eles tinham menos fraquezas humanas e pouca caracterização além de fazerem o bem. Como resultado, eles pareciam mais como recortes de papelão do que pessoas reais.
“Há algo fundamental sobre o ambiente em que esses heróis foram imaginados”, diz Joan Hilty, um editor da DC de 1995 a 2010. “Todos os heróis da DC são realeza. Superman é o último filho de um planeta alienígena. Batman é um cara super rico. A Mulher-Maravilha é uma princesa. O Lanterna Verde é um piloto de combate de primeira linha. Aquaman é o rei dos mares. Todos esses heróis surgiram nos anos 1930 e 1940, durante as Guerras Mundiais e a partir de um desejo de encontrar arquétipos que pudessem salvar países inteiros. Os personagens da DC são muito perfeitos e vinculados a um tempo diferente.”
O conceito de anti-heróis que a Marvel cooptou estava borbulhando na literatura há pelo menos uma década, começando em 1951 com O apanhador no campo de centeio e continuando com o clássico beat de 1957: On the road – Pé na Estrada. Foi um conceito que se mostrou particularmente atraente para aqueles tempos de moral turva. Os heróis da Marvel não eram os velhos personagens limpos e de queixo quadrado. Eles nem sempre agiam de forma heroica. Na verdade, a primeira onda de personagens da Marvel, de 1960, parecia ter mais em comum com os monstros que povoavam os gibis da empresa alguns anos antes.
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“Desde a década de 1940, até a década de 1960, os editores de DC eram feudos independentes, nunca lendo os livros uns dos outros e raramente usando o talento um do outro”, Bob Greenberger, antigo editor da DC, diz. Como resultado, cada gibi de um editor tinha uma cara e uma pegada que poderia diferir em relação ao do outro cara no fim do corredor. Na Marvel era diferente. Porque Lee tinha sido responsável por esta nova linha de super-heróis emergentes desde o início, ele conseguiu construir algo especial. Um universo coerente.
O gigante estava vacilando. As vendas da DC atingiram o pico em 1963 e começaram a cair em 1964. As da Marvel, contudo, continuariam a subir ao longo da década.
“Parecia que os editores da DC estavam tão institucionalizados, tão orgulhosos de suas maravilhosas conquistas, assumindo e mantendo os créditos de inventores dos super-heróis e agindo como se ninguém mais pudesse criar um super-herói tão bem quanto eles”, disse o editor da DC Joe Orlando em 1998. “Eles estavam apanhando da Marvel nas bancas de jornal e não estavam lendo aqueles gibis, nunca analisavam ou tentavam descobrir o que a concorrência estava fazendo. Eles tratavam sua concorrente com total desprezo.”
A diretoria da DC pode ter sido desatenta quanto ao mercado em evolução, mas a editora mostrou alguns sinais de mudança durante a década. Sem dúvida, o ajuste mais duradouro foi a tentativa de criar um universo DC mais coerente, como a Marvel estava ocupada fazendo. Começando em 1963, cerca de dois anos depois do moderno universo Marvel ter nascido, a DC tomou medidas para simplificar todos os seus personagens dentro de um único mundo e acertar a continuidade entre os títulos.
Na mãe de todos os encontros, os dois superesquadrões da empresa – a Liga da Justiça e a Sociedade da Justiça – se cruzaram em Liga da Justiça da América nº 21 (agosto de 1963). A história se chamava “Crise na Terra Um”, e se provou tão popular entre seus compradores – mas provavelmente não para o artista Mike Sekowsky, que deve ter conseguido uma tendinite ao desenhar todos aqueles personagens diferentes – que se tornou uma tradição anual. Também instaurou a palavra “Crise” como a marca da editora para eventos gigantescos envolvendo numerosos heróis.
A DC estava começando a forjar um universo. Diferente da Marvel, cujo universo tinha sido quase todo criado poucos anos antes e era controlado por um editor, a DC tinha que lutar com décadas de linhas narrativas (frequentemente contraditórias) criadas por dezenas de escritores, editores e artistas. O resultado foi uma cronologia confusa, onde nem tudo o que era publicado se encaixava perfeitamente.
Por volta dessa época, a DC também começou a renovar alguns dos seus personagens, sendo mais notável o trabalho feito com o Batman. O herói é uma franquia de vários bilhões de dólares nos dias de hoje, mas no início da década de 1960, Batman estava à beira do cancelamento e correu o risco de desaparecer no esquecimento como outros personagens da era dos pulps, como o Fantasma.
“Havia essa dicotomia estranha”, Shooter diz. “As pessoas na DC ridicularizavam a Marvel Comics, mas também odiavam o fato de que eles estavam vendendo. Não conseguiam entender, pensavam que era como o bambolê, que era apenas uma moda e que iria embora, mesmo enquanto se esforçavam para imitá-los.”
Parte da falta de fraternidade da DC com o leitor vinha da sua filosofia. A empresa não queria apresentar os leitores à sua equipe porque preferiria que aqueles que liam seus gibis não soubessem quem os criava. Para a DC, os personagens eram as estrelas. “Eu não quero que ninguém saiba quem vocês são, eu quero que eles gostem do Superman”, Mort Weisinger disse uma vez para um de seus roteiristas.
Fazer quadrinhos foi uma atividade anônima por muitos anos. O escritor, o desenhista, o arte-finalista, o colorista, o letrista e outras mãos que os produziam raramente recebiam crédito pelo seu trabalho nas páginas das revistas. O artista poderia ocasionalmente esconder uma assinatura em uma página dupla ou colocá-la em segundo plano, como, por exemplo, em uma placa de carro. (Embora a DC normalmente apagasse isso antes das páginas serem impressas.) Créditos oficiais não eram parte do que era normal no negócio. Até Stan Lee aparecer.
“O que aconteceu com a DC foi que ela ficou sem casos bem-sucedidos para duplicar, de modo que, quando Superman e Batman começaram a falhar, eles não tinham nada para imitar”, o artista Gil Kane disse em 1978. “Em vez disso, tiveram que ir ao único outro estilo que estava ganhando dinheiro e, claro, era o estilo de Stan Lee.”
Apenas fazer quadrinhos melhores não era o bastante. Um problema que a DC enfrentou no final da década de 1960 era que o mercado de quadrinhos – e a mídia impressa em geral – estava encolhendo. Menos estabelecimentos carregavam seus produtos, conforme bancas de jornal e lojas de doces de bairro começaram a desaparecer. O país estava se tornando mais uma cultura de carros, já que o êxodo das cidades mudou a maior parte da população americana das áreas urbanas mais densas para os subúrbios. A TV também começou a consumir mais tempo de lazer.
Uma vez na DC, a animosidade de Kirby em relação ao seu antigo empregador começou a se manifestar em seu trabalho. Na edição nº 6 de Senhor Milagre, lançada no fim de 1971, o herói encara um charlatão chamado Funky Flashman, [12] que era uma duplicata exata de Stan Lee, inclusive na barba, na peruca e nas brincadeiras impertinentes. O personagem foi originalmente concebido como uma sátira de um homem que dirigia um fã-clube da Marvel e roubou seus membros, mas assim que Kirby começou a desenhar a história, Flashman se transformou em Lee.
“O diretor de circulação Ed Shukin e eu estávamos conversando uma vez”, conta Jim Shooter, “e ele disse: ‘A DC tem uma produção melhor do que a nossa. Eles nos superam em vinte vezes na publicidade. Tudo em seus gibis é melhor, exceto que os vencemos no conteúdo.’”
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Rapaz, esse livro deve ser legal demais! Mas queria te dizer uma coisa, meu caro Scant, eu leio (lia) quadrinhos desde quando fui alfabetizado no jurássico ano de 1957. Então, o que posso dizer sobre a "nona arte" é que hoje há uma overdose de super-heróis, de super-aventuras. Claro que o que manda mesmo é a grana, ou, como diz bem a frase do início do texto: "Por mais que os leitores gostem de romantizar o negócio dos quadrinhos, é exatamente só isso: um negócio". O que acho uma pena, pois os executivos da Marvel e da DC provavelmente não lêem o que publicam e não se arriscam a publicar o que talvez venda pouco. Isso gera uma "seleção desnaturada" artificial, quase como se a clonificação seletiva de traços per4feitos fosse transporta para as HQ. Se você não tem oportunidade de conhecer personagens toscos, sub-heróis, perdedores, certamente deixará de ler enredos que mesmo não sendo fantásticos e heróicos podem ser extremamente inteligentes e absorventes. Mas assim é esta época.
ResponderExcluira eugenia economica anda favorecendo a mediocridade - sinal dos tempos
Excluirconsola em o fato de termos acesso a nata dos quadrinhos de diferentes décadas que está disponível em reedições ou em arquivos eletrônicos (scans) pela web
Parece uma boa leitura e dá para se formar uma baita biblioteca com essas obras doutrinárias e jornalísticas sobre quadrinhos.
ResponderExcluirSobre Kirby e Lee, penso que o maior mérito de ambos foi dar uma roupagem "humana" e "mortal" aos súperes, mesmo quando entidades supra terrestres. O cara podia combater a essência do mal todas as noites. Mas, no dia a dia, tinha casa para cuidar, preocupação com contas, estresses familiares, conjugais e preocupação até mesmo com dinheiro. Foi mais ou menos por aí...
os livros sobre quadrinhos estão melhores que os quadrinhos de hoje
ExcluirRoberto Guedes tem alguns livros ótimo sobre o tema
"preocupação até mesmo com dinheiro. " principalmente o homem aranha. era bom ler sobre os personagens e poder se identificar com os problemas deles