[Livro] Pancadaria (2018)/ Reed Tucker - Parte 1




essa capa lembra-me das capas da Ed. Abril,

na época que o valor do gibi era tabelado







Introdução 




Por meio da narrativa da histórica rivalidade de duas editoras, o autor consegue dar sentido a décadas de quadrinhos.




Consumi quadrinhos principalmente na década de 90, no começo de minha vida de leitor - simplesmente era impossível pra mim filtrar a quantidade de referências das melhores estórias, principalmente quando se lembra que Marvel e DC já estavam por aí há décadas:





"A DC nasceu na década de 1930, os principais heróis da Marvel só viriam a surgir mais de 25 anos depois. Se a DC representa os Estados Unidos de Eisenhower, a Marvel é como o país de John F. Kennedy. A editora era mais jovem, mais descolada e provavelmente estava indo para a cama com alguém. A Marvel moderna que chegou em 1961 rapidamente sacudiu a indústria de quadrinhos de uma forma que refletia os dramáticos sofrimentos culturais e políticos que todo o país estava experimentando."




Esse livro é a luz no fim do túnel para leitores que nunca entenderam o porquê de cancelamentos, lançamentos, reboots, atualizações, crossovers e muito mais.



Um livro que fazia falta no mercado antes de existir






Alguns Comentários 






Analisando a rivalidade histórica das editoras pelo ponto de vista econômico, tudo passa a fazer sentido:





"Por mais que os leitores gostem de romantizar o negócio dos quadrinhos, é exatamente só isso: um negócio. Art Spiegelman, ganhador do prêmio Pulitzer, responsável por Maus – A História de um Sobrevivente, chama os quadrinhos de “a cria bastarda da arte e do comércio”. E dinheiro (medido em parte pelas vendas) ainda é um dos componentes mais importantes em cada uma dessas edições que você colocou em um papelão, ensacou e guardou com amor no armário – se não para os autores envolvidos, então certamente para seus chefes corporativos em seus aquários."




Fica claro que os quadrinhos são o reflexo da época em que foram editados:





"O Superman de 1938 era um herói muito mais pé no chão (literalmente) do que a versão que ele evoluiria para ser posteriormente. Seus poderes eram limitados. Ele não podia voar. Em vez disso, tinha o poder de apenas saltar duzentos metros. Ele tinha uma força aumentada, mas estava longe de ser invulnerável. Diziam que um morteiro seria capaz de perfurar sua pele. Os tipos de casos que ele escolhe lidar são igualmente mundanos. Em suas primeiras aparições, ele jogou contra a parede um marido que espancava a mulher, revelou um sistema judicial corrupto e acabou com um linchamento. Superman agia menos como o benfeitor de coração de ouro que se tornaria mais tarde e mais como um ativista hippie que poderia morar no fundo do corredor da sua república universitária."





Muita gente pode achar que a lacração (apelação) é algo recente, mas ela existe desde os primórdios dessa indústria, sendo mais uma ferramenta de ganha-pão dos editores. No passado, a preocupação com o leitor era ainda menor:







"A indústria dos quadrinhos é cíclica, com gêneros e personagens entrando e saindo de moda como um jeans de cintura alta. Faroestes foram quentes por alguns anos, depois sumiram. Quadrinhos de romance estavam a toda, depois era impossível conseguir um exemplar de Flaming Love. O mesmo tem sido verdade para os super-heróis. Cerca de dez anos depois de Superman ter aparecido pela primeira vez, o público começou a ficar um pouco entediado com a ideia de superpoderes, e o gênero vacilou. Títulos foram cancelados por todo o mercado, inclusive alguns na DC. As aventuras do herói que possuía o anel, o Lanterna Verde, chegou a um fim abrupto em 1949, e em 1951 a DC desceu o machado na Sociedade da Justiça da América, uma superequipe composta pelo rol de personagens da editora da época da Segunda Guerra Mundial, incluindo Gavião Negro, Homem-Hora e Senhor Destino."




(...)



“Eu ressaltei que o leitor médio de quadrinhos começava a lê-los aos oito anos e os abandonava aos doze”, o falecido Schwartz escreveu em sua autobiografia, Man of Two Worlds. “E uma vez que mais de quatro anos já haviam passado, existia um público totalmente novo que realmente não sabia que o Flash tinha fracassado, e talvez eles pudessem dar uma chance.”



A Marvel hoje é a líder inconteste tanto no mercado de quadrinhos quanto no de filmes baseados em super-heróis. Contudo, o começo dela foi bem humilde:








Por grande parte do começo da sua vida, a Marvel era o equivalente a uma banda cover ruim. Era menos “A Casa das Ideias”, como ficaria conhecida posteriormente, e mais “a casa das ideias das outras pessoas”. “Éramos uma empresa de macacos de imitação”, Stan Lee diz da empresa à qual ele se juntou em 1940, como office boy.




(...)







O chefe da Marvel, uma vez, resumiu sua estratégia de negócios como “se você conseguir um título que se popularize, então acrescente mais alguns e vai ter um bom lucro”.




 (...)







Durante os anos 1940 e 1950, a Marvel saltou de moda em moda, com pouca originalidade ou vanguardismo em evidência. Quando os quadrinhos policiais começaram a decolar, a Marvel deu aos leitores Lawbreakers Always Lose [Contraventores sempre perdem] e All-True Crime [Só crimes de verdade]. Se a Turma do Pernalonga e animais divertidos eram a coisa do momento, ela empurrava o Wacky Duck. Quando faroestes de segunda começaram a fazer sucesso em Hollywood, a Marvel desenrolou Ted Chicote e o Arizona Kid. A empresa até publicou um título chamado Homer the Happy Ghost, que tinha mais do que uma simples semelhança com Gasparzinho, o Fantasminha Camarada.



(...)






“Martin achava, naqueles dias, que nossos leitores eram crianças muito, muito pequenas, ou então pessoas mais velhas que não eram muito inteligentes, ou não estariam lendo quadrinhos”, Lee disse em um comentário em áudio em 2006 para o livro Stan Lee’s Amazing Marvel Universe. “Eu não acho que Martin tivesse mesmo grande respeito pela mídia, e, por isso, recebi a ordem de não fazer histórias que fossem muito complexas, não me alongar demais em diálogos ou em caracterizações.”



Tudo começou a mudar com a lendário pareceria Stan Lee e Jack Kirby:





Em 1961, Kirby e Lee se uniram para um novo tipo de história de super-herói, e os resultados seriam muito mais memoráveis. O que eles criaram foi uma equipe de aventureiros que ganham poderes fantásticos depois de voar para o espaço e ser bombardeados por raios cósmicos. O cientista Reed Richards, também conhecido como Sr. Fantástico, ganha a habilidade de esticar seu corpo como elástico. Sua namorada, Sue Storm, tem o poder de se tornar invisível e ganha o codinome de Garota Invisível. O irmão dela, Johnny Storm (o Tocha Humana), descobre-se capaz de explodir em chamas, e o amigo de Reed, Ben Grimm (o Coisa) é transformado em um monstro laranja de pedras. Parece bem ordinário, e o conceito tem alguns ecos de uma HQ que Kirby fez para a DC em 1957, Desafiadores do Desconhecido, sobre um grupo de quatro aventureiros que sobrevivem a um acidente de avião e enfrentam missões.


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4 comentários:

  1. Rapaz, esse livro deve ser legal demais! Mas queria te dizer uma coisa, meu caro Scant, eu leio (lia) quadrinhos desde quando fui alfabetizado no jurássico ano de 1957. Então, o que posso dizer sobre a "nona arte" é que hoje há uma overdose de super-heróis, de super-aventuras. Claro que o que manda mesmo é a grana, ou, como diz bem a frase do início do texto: "Por mais que os leitores gostem de romantizar o negócio dos quadrinhos, é exatamente só isso: um negócio". O que acho uma pena, pois os executivos da Marvel e da DC provavelmente não lêem o que publicam e não se arriscam a publicar o que talvez venda pouco. Isso gera uma "seleção desnaturada" artificial, quase como se a clonificação seletiva de traços per4feitos fosse transporta para as HQ. Se você não tem oportunidade de conhecer personagens toscos, sub-heróis, perdedores, certamente deixará de ler enredos que mesmo não sendo fantásticos e heróicos podem ser extremamente inteligentes e absorventes. Mas assim é esta época.

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    1. a eugenia economica anda favorecendo a mediocridade - sinal dos tempos

      consola em o fato de termos acesso a nata dos quadrinhos de diferentes décadas que está disponível em reedições ou em arquivos eletrônicos (scans) pela web

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  2. Parece uma boa leitura e dá para se formar uma baita biblioteca com essas obras doutrinárias e jornalísticas sobre quadrinhos.

    Sobre Kirby e Lee, penso que o maior mérito de ambos foi dar uma roupagem "humana" e "mortal" aos súperes, mesmo quando entidades supra terrestres. O cara podia combater a essência do mal todas as noites. Mas, no dia a dia, tinha casa para cuidar, preocupação com contas, estresses familiares, conjugais e preocupação até mesmo com dinheiro. Foi mais ou menos por aí...

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    1. os livros sobre quadrinhos estão melhores que os quadrinhos de hoje
      Roberto Guedes tem alguns livros ótimo sobre o tema

      "preocupação até mesmo com dinheiro. " principalmente o homem aranha. era bom ler sobre os personagens e poder se identificar com os problemas deles

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Memento mori...carpe diem!