10 março, 2021

[Livro] O Meu Eu E Outros Temas Importantes (2009)

 




Nenhum homem pode ser considerado feliz, ou totalmente realizado, até o dia de sua morte.

· Se nos interessarmos o suficiente, poderemos e conseguiremos aprender a fazer praticamente qualquer coisa. Meu verdadeiro problema não foi o de assumir as funções erradas durante a primeira metade da minha vida, mas sim o de me sentir suficientemente apaixonado pelo que fazia.

· Uma vida de sucesso não significa que saibamos o que queremos fazer antes de agir, mas exatamente o oposto. Só fazendo, experimentando, questionando e fazendo outra vez é que descobrimos quem somos. É essa certamente a minha experiência. A nossa identidade é parte herdada, e em parte moldada pelas primeiras experiências, mas não está completamente formada até que tenhamos explorado mais possibilidades.

· Hoje penso que a vida é realmente uma busca da nossa própria identidade. Infeliz daquele ou daquela que morre sem saber quem é na realidade, ou do que é realmente capaz. À medida que progredimos na vida, subimos uma espécie de escada da identidade, mostrando gradualmente as nossas capacidades e descobrindo-nos a nós mesmos. O psicólogo Abe Maslow chamou a isso de “uma hierarquia de necessidades”. Para mim é mais como uma escada.

Esquema clássico

Exceto em tautologias ou em algumas áreas da matemática, não existe verdade objetiva absoluta. Tudo depende do contexto, da perspectiva e dos princípios de origem. Aquilo que considero belo, em termos estéticos, pode parecer muito feio aos olhos de minha mulher, o que traz alguns problemas quando se trata de decoração de interiores.


· Há poucos anos, recordo-me de me terem dito que, quando se pergunta “por quê?” três ou quatro vezes seguidas, é possível que se acabe por conseguir chegar ao âmago das nossas motivações, muitas vezes inconscientes.


· A felicidade não é um estado, mas sim, uma atividade. Não estar deitado numa praia com um copo de vinho e um livro, tampouco ter sexo impudico com a pessoa de seus sonhos.

Janela de Johari - Imagem de Ana Luiza Velozo Crispino

Eudaimonia se traduz melhor por “florescência”, ou fazer o seu melhor com aquilo em que é melhor. Curiosamente, também se aplica a organizações, se bem que nossos modernos gurus da gestão chamem a isso “otimizar as competências-chaves.


· Descobri que se você arranja as pessoas certas com quem começar, não precisa de tudo isso. E se não arranjar as pessoas certas, o que você aprendeu não vai ter nenhuma utilidade.



· Se a aprendizagem e a experiência não estiverem associadas, a aprendizagem evapora, mesmo que, como aconteceu comigo, a experiência venha em primeiro lugar. É por isso que, do meu ponto de vista, grande parte da educação formal pode ser desperdiçada.


 


· Li hipóteses sem fim, que tentavam explicar o porquê de as pessoas e as organizações se comportarem da forma como se comportam, mas nada de provas. Li sermões seculares até o fim, histórias baseadas em casos reais e livros de dicas, mas continuei mais confuso do que esclarecido. Acabei por perceber que gerir um negócio, ou uma organização, consistia mais numa arte prática do que numa ciência aplicada. Sim, havia algumas disciplinas úteis, como acontece em qualquer forma de arte, mas o que funcionava melhor não podia ser inteira e previamente determinado. Cada situação tinha a sua especificidade própria. Os intervenientes, os motivos, os recursos, e as condicionantes eram sempre diferentes.


· As escolas, em todos os níveis, preferem ensinar aquilo que pode ser ensinado, em vez daquilo que é preciso aprender.


· Não é comum descobrir que sabemos aquilo que nem nos passava pela cabeça que sabíamos.


· A experiência e a aprendizagem têm de andar de mãos dada e no mesmo espaço temporal. Ter acesso aos conceitos antes da experiência corresponde a guarda conhecimentos num armazém mental, na esperança de que isso nos possa ser útil mais tarde. No entanto, pela minha experiência, o conhecimento armazenado perde-se muito rapidamente. Acontece com frequência de já não estar lá quando precisamos dele. Sabemos que, para aprender uma língua como deve ser, temos de começar a fala-la o quanto antes, mas atenhamos aprendido. Acontece a mesma coisa com tudo mais.


· No que diz respeito aos médicos, arquitetos, advogados e conselheiros financeiros, estou disposto a aceita aquilo que dizem, se bem que saiba que são apenas humanos, que não podem estar sempre certos e que alguns deles parecem declaradamente estúpidos quando estão fora da área de especialização.

· Aprendi, por meio de dolorosas experiências, que, apesar de os profissionais poderem saber mais respostas do que eu, é importante que eu saiba que perguntas devo fazer a eles.



· Se levarmos demasiado longe a nossa fé no conhecimento dos outros, podemos acabar por ceder o controle da nossa vida a pessoas que não conhecemos.


· Era tentador, mas pouco sensato, aceitar os valores e aspirações de outros em vez de compreendermos os nossos.


· Mudar nossa vida pode, muitas vezes, implicar que se comece de novo no mais baixo degrau de uma escala, mas se tivermos descoberto que a escada que estávamos subindo está encostada à parede errada, então a decisão estará mais do que certa.


· O momento certo para pensar em desenvolver uma nova vida, para se lançar num novo emprego ou criar um novo interesse é quando as coisas ainda estão bem.


· Se você se sente confortável e tem o controle sobre sua vida ou trabalho, pode estar confundindo a ilusão de segurança com complacência.



· Quando estou escrevendo no campo, planejo os dias de modo a mesclar a escrita (trabalho remunerado) com período de leitura e pesquisa (trabalho de estudo) e algum trabalho doméstico decente: fazer as compras e o fazer o jantar. É tudo trabalho, mas a mistura dos dois diferentes tipos é o que dá prazer – pelo menos para mim, nesta fase da vida. Também tenho o cuidado de me permitir algum tempo para descansar - a sesta após o almoço, um jogo ligeiro de tênis e uma caminhada.


· As normas, os regulamentos e hierarquia eram seus ossos e artérias. As relações e a política que geravam eram seu sangue.


· Nós, cada um de nós, passamos por várias pequenas mortes durante a nossa vida, refleti. Mas nenhuma delas deveria nos impedir de recomeçar e de usar esse novo começo para emendar coisas que fazemos no passado.







· Quando as regras são ignoradas, é-nos dada total permissão para fazermos o que nos agradar.

· Não oferecer algo que realmente não queremos e não procurar elogios ou palavras de conforto, pois elas podem não surgir.

· A liberdade de expressão pode ser um dos direitos humanos, mas pode não ser sensato confiar nisso quando o nosso salário é pago por alguém.

· Há poucas coisas piores na vida do que ser usado para fins que não são os nossos por pessoas que nem sempre respeitamos.

· O sucesso parece vazio quando não temos com quem celebrar, e o fracasso é duas vezes mais deprimente quando não há ninguém que nos dê consolo.

· Continua a ser inegável que, acima de certo nível, ter mais dinheiro não nos faz mais felizes. Faz algum sentido; uma vez que temos o suficiente para o essencial, muitas vezes é difícil justificar o esforço necessário para ganhar o dinheiro extra, a fim de comprar mais coisas desnecessárias.

· Sem alguns critérios, as escolhas apenas geram mais estresse.

· No nosso caso, decidimos alocar 150 dias para o nosso trabalho puramente criativo, para escrita e fotografia, bem como para a leitura e pesquisa. Depois, pusemos de lado mais de 100 dias para a gestão e para o negócio, a maioria deles para conferências no estrangeiro, juntamente com uns insignificantes 30 dias para um trabalho voluntário de qualquer tipo. 

E ainda nos restam 85 dias para um dia de folga semanal e um dia livre ocasional. preocupamo-nos em manter um controle rigoroso sobre o total de dias, mas é irrelevante saber quais dias da semana são utilizados para quê. Aliás, costumamos guardar as sextas-feiras para qualquer tipo de lazer e trabalhamos a maioria dos domingos, quando o telefone não toca. É preciso autodisciplina para cumprir o estipulado. É tentador, por exemplo, trabalhar mais dias do que o previsto, porque isso significa mais dinheiro, mas sabemos que, se não investíssemos na escrita e na fotografia, dali a pouco não teríamos negócio nenhum. Essa é a Investigação & Desenvolvimento da nossa vida e deve ser preservada.

· O problema é que a maior parte das coisas que nos pedem para aprender nas escolas não estimula ou interessa. 
Somos levados a acreditar de boa-fé que essa aprendizagem nos será útil num futuro distante, só que, quando se tem 15 anos, 30 é uma idade distante. Como no meu próprio caso, a aprendizagem empacotada ou armazenada desaparece rapidamente. Todas as lições deveriam ter uma etiqueta com a inscrição “utilizar até.” para se manterem presentes.

· Entrar numa nova família não é diferente de ir viver em outro país. É preciso aprender os seus usos e costumes e ganhar o direito de residência, mas mantendo a própria identidade. Tal como os países, as famílias têm as histórias que moldam a sua cultura.

· Hoje observo que a maioria das pessoas me parece mais verdadeira quando conheço sua família. Só então as vejo na sua plenitude, sem o estudo protetor da sua identidade pública, a máscara que todos nós envergamos até conhecermos alguém suficientemente bem para então tirá-la.

· Os casamentos funcionam melhor quando existe um quarto separado para cada cônjuge, bem como para ambos. Eu e minha mulher trabalhamos intimamente juntos, mas só funciona porque fazemos coisas diferentes em espaços físicos diferentes. Quem quer que em nossos locais de trabalho, percebe imediatamente que temos formas diferentes de organização, rotinas diferentes e hábitos diferentes,


· Na verdade, não sou muito bom como turista. Não gosto muito de visitar locais famosos ou de andar no meio de ruínas, apenas para dizer que estive lá ou para guarda imagens no meu banco de memórias. 

Para ser mais exato, sou o que poderiam de turista sociológico, gosto de observa como funciona um país, como vivem e trabalham os seus habitantes e, se possível, conhecê-los. A melhor forma de fazer isso, sem ser um voyeur intrometido, é ter algum trabalho nos locais que pretendo visitar.


· Acredito que Aristóteles teria concordado com o bispo. “faz o teu melhor com aquilo em que és melhor” é a minha tradução do seu princípio do eudemonismo. Não podemos ser todos bons em tudo. Não tente ser aquilo que não é. 

Nossos genes nos definem até certo ponto. Podemos desejar ter sido mais bonito, ou mais inteligente, ou mais atlético. Podemos pensar que a vida teria sido diferente se tivéssemos nascido em outro estrato da sociedade, é provável que sim. A única solução, porém, é conselho que meu barbeiro me deu quando lhe perguntei o que fazer em relação ao avanço da minha calvície: “devia ter trocado de pais antes de nascer”, respondeu-me. Eu nunca teria querido isso.


· Exercer sua escrita com base no mais puro dos objetivos: explicar o mundo em que vivia a si mesmo.

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2 comentários:

  1. Adorei.
    Conhece Carlos Cassau? Ele faz vídeos abordando assuntos relacionados.

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    1. não conhecia

      pelo que vi ele é nômade digital

      aqui na finasfera (rede de blogs pessoais sobre educação financeira), nosso foco é mais independência financeira com qualidade de vida

      temos um nômade independente financeiro que é o Aposente Cedo (https://www.aposentecedo.com/), mas a maioria dos que atingiram a independência financeira (eu não atingi ainda) são "fixos digitais" (nem sei o termo existe)

      abs!

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