1 - Intro
Muito bom.
Eliminou várias lendas da minha cabeça.
2 - Resumo resumido
Origem dos Templários
A origem dos Templários só pode ser entendida a partir da história das Cruzadas – as investidas militares realizadas para salvar o Oriente, em especial os Lugares Santos, das mãos dos muçulmanos. Tudo começou com o Concílio de Clermont, em 1095, quando o Papa Urbano II convocou a cristandade à retomada de Jerusalém. O empreendimento foi um sucesso, mas, ao invés de devolver o território de Outremer ("Ultramar") ao Império Bizantino, os cruzados – que se consideravam traídos pelo Imperador Aleixo – fundaram para si o Condado de Edessa (1095), o Principado de Antioquia (1098), o Condado de Trípoli (1102) e, principalmente, o Reino de Jerusalém, em 1099. Toda a faixa do mar do chamado Crescente Fértil ficou sob domínio latino.
Os Templários e as Cruzadas
Em 1144, os muçulmanos conseguiram dominar o Condado de Edessa, uma espécie de Estado "tampão", criado durante a primeira cruzada, para impedir invasores de chegarem a Jerusalém. O fato despertou a preocupação do Papa Eugênio III, levando-o a convocar uma nova cruzada em defesa da Terra Santa. Mas o apelo foi praticamente ignorado. Coube, então, a São Bernardo, a pedido do rei da França, Luís VII, a missão de convencer os fiéis cristãos da necessidade daquela nova batalha.
A segunda cruzada, no entanto, foi um grande fiasco. O dique que segurava a frágil posse dos cristãos latinos sobre Jerusalém começou a rachar. 50 anos depois da primeira conquista, os cristãos viam-se cada vez mais acuados. E o líder muçulmano, Nur ad-Din, finalmente, conseguiu vencê-los. Os cristãos, embora exercessem domínio sobre a cidade, sempre foram minoria em Jerusalém, se comparados ao contingente de outras populações. Com o término da primeira cruzada, poucos guerreiros ficaram na Terra Santa. A maioria preferiu retornar para casa. A defesa de Jerusalém, portanto, era praticamente impossível, dada a força dos invasores. Apesar de temerem os cavaleiros cristãos, os muçulmanos encontravam-se em maior vantagem para lutar. Os Templários, graças ao seu prestígio, conseguiam atrair vários guerreiros, mas o custo para pertencer à Ordem — viagem, armadura, armas e cavalos — era altíssimo, o que tornava a missão ainda mais difícil.
Saladino venceu os cristãos na famosa Batalha de Hattin, em 1187. Foram presos o rei Guido, 230 templários e Reinaldo de Châtillon. Este último, um velho inimigo de Saladino, acabou mártir, após se recusar a converter-se para o Islã. Guido de Lusignan, por sua vez, beneficiou-se da compaixão de Saladino. "Um rei não mata outro rei", teria dito o general curdo ao rei cristão.
O destino dos 230 templários não encontrou a mesma compaixão de Saladino, alardeada pelo filme de Ridley Scott. Templários, na concepção de Saladino, deviam ser mortos. Não se podia fazer com eles o que era feito com outros tipos de prisioneiros, como negociações por propriedades de terra, entre outras coisas. Prisioneiros comuns, quando soltos, fugiam para outras regiões. Mas aqueles cavaleiros não eram prisioneiros comuns; eram homens que haviam dado suas vidas pela Igreja, pela fé em Jesus Cristo. Por isso, ou se convertiam ao Islã, ou deviam ser mortos. E, para espanto do general muçulmano, nenhum dos 230 guerreiros vacilou na fé. Preferiram a morte. Aqui se percebe o quão equivocadas são essas teorias de que os Templários eram, na verdade, gnósticos infiltrados na Igreja. Gnósticos não morrem por Jesus. Os Pobres Cavaleiros de Cristo eram verdadeiramente bons cristãos.
A notícia de que Jerusalém havia sido tomada pelos muçulmanos caiu como uma bomba na Europa. Não se admitia que a terra onde vivera Jesus estivesse sob domínio dos pagãos. Uma nova cruzada foi organizada, agora por três reis: Frederico Barba-Ruiva, Filipe Augusto e Ricardo Coração de Leão. Foi a mais bem organizada de todas as cruzadas. Todavia, o jogo de interesses acabou por miná-la pouco a pouco, levando os cruzados a um novo fracasso.
Organização e Missão dos Templários
A Ordem dos Templários foi algo totalmente inédito na história da Igreja*. Revolucionário, pode-se dizer. Em sua regra De laude novae militiae, com a qual apresenta o perfil de um autêntico templário, São Bernardo de Claraval conseguiu conciliar as virtudes necessárias a um monge (mansidão, prudência, temperança) com as virtudes necessárias a um cavaleiro (coragem, fortaleza, justiça), dando origem a uma organização religiosa e militar que não era nem de monges, nem de cavaleiros seculares. Não eram monges porque não podiam fugir do mundo. Seu trabalho era precisamente entre as pessoas, oferecendo proteção aos peregrinos e lutando contra os invasores de Jerusalém. Não é preciso dizer o quão alheio ao espírito monástico isso significa. Por outro lado, também não eram cavaleiros comuns, pois deviam combater os vícios da alma: luxúria, soberba, ira, gula etc. Assim o santo explica: "Pretendo falar de um novo tipo de cavaleiro, absolutamente desconhecido nas eras precedentes, que, sem poupar energias, trava uma luta num duplo fronte: uma luta contra a carne e o sangue, mas também contra os espíritos malignos espalhados nos ares." A realidade de Rolando e Olivier. Dois guerreiros em um único cavalo. Tratava-se mesmo de algo inovador.
Declínio e extinção dos Templários
1291. É um ano decisivo para a história dos Templários. Com a tomada de Acre pelos muçulmanos, os Pobres Cavaleiros de Cristo têm a sua última grande batalha em defesa da Igreja. São João do Acre (hoje, um distrito de Israel) era o único reino cristão que restara após todos os confrontos das Cruzadas. Perdê-lo significaria uma tragédia. Mas o destino, ou a providência divina, haveria de selar aquele momento com uma derrota para a cristandade. O saldo de mortos foi enorme. A fortaleza dos Templários, onde os cavaleiros haviam escondido alguns cidadãos para protegê-los da guerra, foi palco de uma cena horrível: devido à pressão do exército muçulmano, o prédio acabou ruindo. A maioria morreu soterrada. Os cavaleiros sobreviventes fugiram para a ilha de Chipre, onde escolheram o novo grão-mestre da Ordem: Jacques de Molay.
Templários: Legado e Ficção
Jacques de Molay, o último grão-mestre dos Templários, chegou ao fim da vida como um criminoso. Antes de ser morto em uma fogueira, porém, proferiu um discurso feroz contra seus algozes: "Deus sabe quem errou e pecou. Logo chegará o infortúnio àqueles que nos condenaram erroneamente. Deus vingará nossa morte." É claro que palavras tão duras não deixariam de suscitar certo thriller. A Ordem dos Templários, vimos na aula anterior, foi dissolvida não porque era gnóstica, herética ou algo parecido. Também não se tratou de uma reação aos grotescos métodos do Rito de Iniciação. O próprio Pergaminho de Chinon, como revelou a nossa já conhecida historiadora Bárbara Frale, mostra que Clemente V ia absolver a cavalaria de São Bernardo de Claraval. Jacques de Molay era inocente. Foram as pressões de Filipe IV, maquiavelicamente planejadas por seu conselheiro Nugaret, que levaram à injusta condenação dos Pobres Cavaleiros de Cristo e de seu último grande líder.
O Templarismo em nosso dias
A literatura ficcional contemporânea também se encarregou de escrever algumas páginas mirabolantes para os Templários. Tudo começou no século XIX, com o escritor Sir Walter Scott. Em um livro chamado The Talisman, de 1825, Scott lançou as bases para o que mais tarde viria a ser o filme do seu quase homônimo Sir Ridley Scott. Assim como em Kingdom of Heaven, 2005, The Talisman retrata Ricardo Coração de Leão como um homem cruel e inescrupuloso, enquanto Saladino aparece como compassivo e misericordioso. Os Templários são tachados de zelotes religiosos devotados à luxúria e ao assassinato. Como contraste, os Hospitalários são bonzinhos e, vejam só, críticos da religião.
Observações:
ROBINSON, J.J. ("Os Segredos Perdidos da Maçonaria", 1ª Ed, São Paulo: Madras, 2.005, p. 172 Born in Blood: The Lost Secrets of Freemasonry John J. Robinson cf. Kindle). Nota: J.J. Robinson foi um historiador maçom. Vale salientar que sua obra é publicada no Brasil pela Editora Madras, que também pertence à Maçonaria. Ou seja, a própria bibliografia maçônica confessa o embuste sobre os Templários.
O racionalismo iluminista sepultou o mistério da fé. Por isso, aqueles que sentiam falta da religião viam no teatro, no esoterismo e na prática do ocultismo uma fuga. A sociedade da época tinha uma mentalidade teatral. Lembre-se de que, logo após o Iluminismo, surgiu o movimento romântico. Ocorreram muitas falsas conversões à Igreja neste período, por causa da beleza da liturgia. Quando percebiam, porém, que se tratava de algo mais profundo, partiam para bruxaria, seitas e sociedades secretas como a Maçonaria. Uma frase perfeita do historiador Peter Partner resume tudo: "As lojas maçônicas eram lojas de brinquedos onde os homens podiam brincar de realizar suas fantasias, no teatro de suas fantasias e ritos de poder" (cf. Peter Partner, Assassinato dos magos. Os Templários e seus mitos, Campus, 1991, , pág. 107: (Murdered Magicians: The Templars and Their Myths, Oxford University Press, 1982, 209p.).
3 - Conclusão
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Bibliografia em português
- Alain Demurger, Os Templários: uma Cavalaria Cristã na Idade Média, Difel, 2007, 686p. (Les Templiers, une chevalerie chrétienne au Moyen Âge, Seuil, 2005, 664 p.)
- Alain Demurger, Os cavaleiros de Cristo. Templários, Teutônicos, Hospitalários e outras ordens militares da Idade Média, Jorge Zahar Editor, 2002, 351p.
- Peter Partner, . Os Templários e seus mitos, Campus, 1991, 216p. (Murdered Magicians: The Templars and Their Myths, Oxford University Press, 1982, 209p.).
- Piers Paul Read, Os Templários. A história dramática dos cavaleiros templários, a mais poderosa ordem militar dos cruzados. Imago, 2001, 366p.
- Régine Pernoud, Os Templários. Publicações Europa-América, (Edição Francesa de 1974), 166p.
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