A tecnologia muda a forma do cérebro
Hoje, finalmente, começam a se dissipar as brumas que obscureciam a inter-relação entre a tecnologia e a mente. As recentes descobertas da neuroplasticidade tornam mais visível a essência do intelecto, e mais fáceis de assinalar seus passos e fronteiras. Elas nos dizem que as ferramentas que o homem usou para apoiar ou estender seu sistema nervoso — aquelas tecnologias que ao longo da história influenciaram como encontramos, armazenamos e interpretamos informação, como direcionamos a nossa atenção e ocupamos os nossos sentidos, como nos lembramos e como esquecemos — modelaram a estrutura física e o funcionamento do cérebro humano.
Seu uso fortaleceu alguns circuitos neurais e enfraqueceu outros, reforçou certos traços mentais enquanto deixou esmaecer outros. A neuroplasticidade fornece o elo perdido para compreendermos como os meios informacionais e outras tecnologias intelectuais exerceram sua influência sobre o desenvolvimento da civilização e ajudaram a guiar, em um nível biológico, a história da consciência humana.
Entenda o que perdemos
a alienação é um subproduto inevitável do uso da tecnologia. Sempre que usamos uma ferramenta para exercer um maior controle sobre o mundo exterior, mudamos a nossa relação com esse mundo. O controle só pode ser exercido com um distanciamento psicológico. Em alguns casos, a alienação é precisamente o que dá o valor a uma ferramenta. Construímos casas e confeccionamos jaquetas de goretex porque queremos ser alienados do vento, da chuva e do frio. Construímos esgotos públicos porque queremos manter uma distância saudável de nossa imundície. A natureza não é nossa inimiga, mas também não é amiga.
(...) As funções mentais que estão perdendo a batalha das células cerebrais da “sobrevivência do mais ocupado” são aquelas que amparam o pensamento calmo, linear — aquelas que usamos para percorrer uma narrativa extensa ou um argumento elaborado, aquelas com as quais contamos quando refletimos sobre nossas experiências ou contemplamos um fenômeno externo ou interno. As vencedoras são aquelas funções que nos auxiliam a localizar, categorizar e avaliar velozmente porções disparatadas de informação em uma variedade de formas, que permitem que nossa mente não se perca quando somos bombardeados por estímulos. Não coincidentemente, essas funções são muito semelhantes às realizadas pelos computadores, que são programados para a transferência a alta velocidade de dados para dentro e para fora da memória. Mais uma vez, parece que estamos assumindo as características de uma nova tecnologia intelectual popular.
Não perca sua Cultura
Em um ensaio recente, o dramaturgo Richard Foreman descreveu eloquentemente o que está em jogo. “Venho de uma tradição de cultura ocidental”, escreveu, “na qual o ideal (o meu ideal) era a estrutura complexa, densa e ‘ao modo de uma catedral’ da personalidade altamente educada e articulada — um homem ou uma mulher que trazia dentro de si mesmo uma versão pessoalmente construída e única de toda a herança do Ocidente.”
Mas agora, continua ele, “eu vejo dentro de nós (eu mesmo incluído) a substituição de uma densidade interior complexa por um novo tipo de self — evoluindo sob a pressão da sobrecarga da informação e da tecnologia do ‘instantaneamente disponível’”. Quando drenam o nosso "repertório interior da densa herança cultural”, concluiu Foreman, corremos o risco de nos tornarmos "pessoas panqueca — espalhadas para os lados e finas à medida que nos conectamos com a vasta rede de informação acessada pelo mero toque de um botão”.
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"são aquelas que amparam o pensamento calmo, linear"
ResponderExcluirKrl. Perfeito!
Ando me preocupando bastante com isso, pensando em modos de me afastar de alguma forma da vida on line. Limitá-la ao máximo. É algo que preciso planejar.
Abraços!
concordo contigo " Limitá-la ao máximo"
Excluirvida offline é a vida real
Eu concordo com a ideia, mas a verdade é que não poderia ser diferente.
ResponderExcluirAntigamente, quando não havia televisão, computadores e etc. A maioria das pessoas já se ocupavam com mesquinhezas e picuinhas, poucos eram os indivíduos que iam atrás do tal conhecimento. Isso era coisa para gente com "tempo livre", não é algo legal de se contar numa mesa de bar, que vai passar os próximos 10 anos estudando um assunto para, talvez, entender, ainda mais se o assunto não vai te trazer "mirréis". Legal é saber quem está sendo chifrado e coisas do tipo.
O conhecimento, livros, aulas, filosofia, literatura, etc. continuará restrito aos poucos que têm amor pela pesquisa do assunto que gostam. Esses irão, na medida do possível, ir além. Aos outros, no âmago, nada mudou. A única diferença é o tempo, agora têm tanta coisa rolando na telinha que, se não se atentar, pode passar a vida inteira vivendo para os outros.
Li semana passada o seguinte texto: https://www.artofmanliness.com/character/behavior/sunday-firesides-the-cult-of-personality-in-a-small-minded-soceity/
No final têm uma frase que simboliza bem isso: great minds discuss ideas; average minds discuss events; small minds discuss personalities.
NO fundo, nada mudou.....
"NO fundo, nada mudou....." acho que ficou pior
Excluirlidar com a televisão e o rádio me parece mais fácil que lidar com os algorítmos "malignos" das redes sociais
não lembro de ter visto pessoas viciadas em televisão do mesmo modo que aspessoas viciam nessas redes
Excelente post, Scant!
ResponderExcluir"As funções mentais que estão perdendo a batalha das células cerebrais da “sobrevivência do mais ocupado” são aquelas que amparam o pensamento calmo, linear — aquelas que usamos para percorrer uma narrativa extensa ou um argumento elaborado..."
As leituras muitas vezes são feitas de forma superficial, com o escaneamento do texto pelos olhos, mas não mais a leitura com atenção e foco.
Além disso, agora os parágrafos são curtos, com palavras mais simples, ou seja, quase não há mais ampliação do vocabulário.
Fico pensando onde tudo isso vai parar...
Pena que esse livro não é mais impresso. Há alguns anos eu queria comprá-lo, mas simplesmente não existe mais para venda. Uma obra tão importante como essa poderia voltar às lojas.
Um bom final de semana,
Simplicidade e Harmonia
e daí que não é mais impresso?
Excluirhttps://br1lib.org/s/gera%C3%A7%C3%A3o%20superficial
abs!