Intro
É para introduzir você nas riquezas da obra chestertoniana, na qual literatura e filosofia, apologia e uma boa risada andam juntas sem solução de continuidade, que este curso foi pensado. Em 10 aulas, você terá a oportunidade de conhecer mais de perto a vida do escritor londrino e compreender mais a fundo os escritos mais representativos do seu gênio: a biografia de São Francisco de Assis, a trilogia apologética de Hereges, Ortodoxia e O homem eterno, além das aventuras do Padre Brown. (sinopse)
Curso muito legal de fazer.
É muito bom poder conhecer parte do pensamento de autores clássicos.
Resumo resumido
De aparência, Chesterton era, além de roliço, bastante alto. Os cabelos, encaracolados, se agrisalharam antes que os bigodes. Mas o que talvez mais chamava a atenção era o inusitado contraste entre aquela figura grandona e imponente (tão grande que lhe valeu a isenção do serviço militar durante a I Guerra) e uma voz nada profunda, com uma risada fina e gostosa.
Sua conversão, vale lembrar, foi epocal. Em 1921, com efeito, a Igreja Anglicana aprovou o uso dos anticoncepcionais. Um coração católico não poderia suportar tamanha traição a Cristo e aos valores evangélicos. “A Igreja”, escreveu ele, “não deve mover-se com o mundo; deve mover o mundo”. São de 1922 alguns de seus grandes escritos contra a eutanásia, quiçá um dos maiores flagelos do século passado que, ainda hoje, sob nomes e máscaras diversos, estende os seus tentáculos para sufocar as vidas mais inocentes.
São Francisco de Assis - Uma das características mais chamativas do método biográfico de Chesterton é a sua abordagem aparentemente pouco biográfica. Em “São Francisco de Assis”, Chesterton não se propõe reconstruir a vida do poverello a partir de um estudo erudito e exaustivo de fontes históricas. O ponto culminante dessa ordenação contínua de todas as coisas a Deus foi, evidentemente, o episódio do monte Alverne. Ali retirado, viu S. Francisco a figura alada, semelhante a um serafim, e recebeu em sua carne, alvejada por raios de luz, os estigmas de Jesus Cristo, como um selo distintivo do amor que ele com tanta radicalidade lhe devotara. Essas chagas, cujo significado e conhecimento Chesterton quer-nos transmitir, indicam em S. Francisco o que Deus espera realizar em todos nós: configurados plenamente ao Crucificado, hemos de viver para o único Amor digno de ser amado. É só a vivência deste amor sobrenatural o que nos permite compreender a fundo como Giovanni di Pietro di Bernardone tornou-se S. Francisco de Assis.
Os três grandes livros graças aos quais G. K. Chesterton se tornou mais conhecido no Brasil complementam-se mutuamente e constituem, de certo modo, uma única obra, na qual o escritor inglês prova todo o seu gênio apologético, bem como sua equilibrada visão do homem moderno e dos problemas que o angustiam. Trata-se de Hereges, de 1905; Ortodoxia, de 1906; e O homem eterno, de 1925.
Hereges - Em Hereges, escrito com um wit marcadamente inglês, Chesterton vai a cada frase pondo o leitor em maus lençóis, ao mostrar, por meio de vários paradoxos bem elaborados, a inconsistência interna do pensamento e das ideias que se revelam nas atitudes do homem de seu tempo e, sobretudo, do nosso. A conclusão de Chesterton não poderia ser menos eloquente que precisa:
O homem pode ser definido como um animal que fabrica dogmas. À medida que empilha doutrina sobre doutrina e conclusão sobre conclusão, ao formar algum enorme esquema filosófico e religioso, está, no único sentido legítimo de que a expressão é capaz, se tornando mais e mais humano. Ao abandonar doutrina após doutrina, num refinado ceticismo, ao recusar filiar-se a um sistema, ao dizer que superou definições, ao dizer que duvida da finalidade, quando, na própria imaginação, senta-se como Deus, não professando nenhum credo, mas contemplando todos, então está, por intermédio do mesmo processo, imergindo lentamente na indistinção dos animais errantes e da inconsciência da grama. Árvores não têm dogmas. Nabos são particularmente tolerantes” (Hereges, ed. Ecclesiae, p. 258).
Ortodoxia - São muitos os que querem a felicidade, como o são os que querem sexo, mas uns e outros se indignam de que alguém lhes diga que essa felicidade precisa ser de algum modo merecida ou, melhor, respeitada. Não chegaram nunca a entender que a felicidade, assim como o prazer, não é algo óbvio, que está aí, numa prateleira: é, no fundo, mais um “mistério”, uma mágica, um dom sagrado tão imerecido quanto frágil, como um sapatinho de cristal. Os contos de fadas nos recordam, em resumo, que a felicidade é algo incompreensível — não era necessário que pudéssemos ser felizes — que depende de condições igualmente incompreensíveis. Por isso, não cabe a nós decidir as regras do jogo da vida, como não faria sentido que alguém exigisse um presente ou que, tendo-o recebido, ficasse indignado por ter de tomar cuidado para não despedaçá-lo no chão.
A estranheza que o cristianismo causa na inteligência humana é semelhante a que experimentaria um alienígena que examinasse pela primeira vez um corpo humano:
Suponhamos que alguma criatura matemática proveniente da lua examinasse o corpo humano; ela imediatamente veria que o fato essencial nesse caso é que o corpo é duplicado. Um homem contém dois homens: um à direita que se parece exatamente com outro à esquerda. Depois de notar que há um braço do lado direito e outro do lado esquerdo, uma perna à direita e outra à esquerda, ela poderia ir adiante e ainda encontrar de cada lado o mesmo número de dedos nas mãos, o mesmo número de dedos nos pés, olhos geminados, orelhas geminadas, narinas geminadas e até lobos do cérebro geminados. No mínimo ela tomaria o fato como lei; e depois, quando encontrasse um coração de um lado, ela deduziria a presença de outro coração do outro lado. E exatamente nesse momento, no ponto em que se sentisse mais segura de estar certa, ela estaria errada (Ortodoxia, ed. Mundo Cristão, pp. 85-86).
Deixemos que o próprio Chesterton exponha sua conclusão:
Essa é, portanto, concluindo, a minha razão para aceitar a religião e não simplesmente as dispersas e seculares verdades derivadas dela. Faço-o porque a instituição não revelou esta ou aquela verdade, mas revelou-se como a instituição que diz a verdade. Todas as outras filosofias dizem as coisas que claramente parecem verdadeiras; somente esta filosofia tem dito muitas e muitas vezes aquilo que não parece, mas é verdadeiro. Ela é a única de todas as crenças que convence em pontos em que não é atrativa; ela acaba se revelando certa, como o meu pai no jardim (Ortodoxia, ed. Mundo Cristão, p. 168).
O homem eterno - O que Chesterton delineia aqui, como se vê, é um retrato bastante atual do nosso mundo. Vivemos hoje segundo abstrações e construções teóricas aparentemente elaboradíssimas, mas somos talvez mais crédulos e supersticiosos do que os pagãos, superados pelo nosso irenismo, pela nossa planificação de todas as religiões. O que Chesterton relata no trecho a seguir continua sendo plenamente atual:
Lembro-me de defender a tradição cristã contra toda uma mesa de jantar cheia de distintos agnósticos; e antes do fim de nossa conversação todos eles, um por um, haviam tirado do bolso ou exibido pendendo da corrente do relógio algum amuleto ou talismã do qual admitiam nunca se separar. Eu era a única pessoa presente que havia esquecido de munir-se de um fetiche. A superstição ocorre numa época racionalista porque ela se apoia em algo que, se não for a mesma coisa que o racionalismo, não está desvinculado do ceticismo (O homem eterno, ed. Mundo Cristão, p. 123)
Padre Brown - Com o Padre Brown as coisas são diferentes. Brown não encarna o ideal de uma sabedoria puramente analítica, que enxerga o mundo como um grande problema de geometria, em que dos menores detalhes se pode deduzir, como de axiomas certíssimos, os corolários mais remotos. Brown é sábio, sim, mas com uma sabedoria que é quase ingenuidade. Chesterton o descreve, aliás, como um detetive underdog, em alusão àqueles cachorros fracotes que, numa briga de cão, não só não contam com o favor dos apostadores, mas cujas vitórias não se consideram sequer meritórias: são apenas sorte, coisa de “azarão”.
Conclusão
Recomendo.
abs!
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Referências bibliográficas
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- ______., A coisa: por que sou católico. Trad. port. de Antônio Emílio Angueth de Araújo. São Paulo: Oratório, 2016.
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Havia uma editora que lançou Padre Brown integral aqui, em formato caprichado. Fiquei com vontade de comprar à época.
ResponderExcluirtenho que voltar a ler romances policiais
Excluirolavo recomendava maigret (Georges Simenon)